Da varanda da minha casa, vejo o céu em movimento, montanhas em verde pleno, barulhinho de passarinhos, vento em redemoinho e a criançada a brincar
Da varanda da minha casa, recebo o sol matutino, a brisa com carinho e a lua a me vigiar
Da varanda da minha casa, ouço canções de amor, leio os meus autores preferidos, tomo uma taça de vinho, sorvo os meus delírios e vivo as quatro estações
Da varanda da minha casa, despeço-me do verão e recebo de braços abertos a minha estação outonal.
Da varanda da minha casa, recarrego a minha alma e aqueço o meu corpo com os sóis invernais.
Da varanda da minha casa, vejo tudo florescer, são flores primaveris que aromatizam os meus sonhos, colorem minha vida a cada amanhecer.
Da varanda da minha casa, escrevo os meus poemas, resolvo os meus dilemas, vivo prazeres e alguns desprazeres.
Da varanda da minha casa, intrujo as indiretas, perpassam os fantasmas, rouquejo pequenos versos guardados no coração.
Da varanda da minha casa, vejo o belo, vejo o tosco, imponentes concretos, armaduras de ferro, singelas choupanas e seus jardins eternos.
Da varanda da minha casa, vejo tua varanda, vejo-te debelando o inimigo com sorrisos e gritos
Da varanda da minha casa, desenxovalho, desfibro o anoitecer.
Da varanda da minha casa, clareio meus caminhos, espalho sorrisos e espanejo a solidão.
Da varanda da minha casa, versejo ao tempo, versejo ao infinito, sulco em neblinas pálidas e livro-me do obscurantismo.
Da varanda da minha casa, observo os coleópteros pesados e desengonçados virados ao chão, observo os lepidópteros diurnos e noturnos bailarem em coreografias ensaiadas, enquanto embalo-me à rede.
Da varanda de minha casa, vigio, de minha rede, os guabirus e suas intenções inglórias.
Da varanda da minha casa, varo a vastidão.