Ela e ele

poema






Na concordância previamente estabelecida
não houve a harmonização desejada
Ela pluralizava
Ele singularizava
- resultaram-se num texto caótico
mas ardentemente divino.
Na concordância previamente estabelecida
deixaram a plutocracia de lado
viveram num barraco avarandado.
- ou seria um bangalô?

Música

poema


Dissonantes?
Desarmonizados?
- Que nada!
Estava bem cadenciado
e muito bem orquestrado.
Quem disse que gritos de amor
têm que ser afinados?



Tensão...

De repente a noite escureceu
nenhuma estrela
nenhum brilho
somente ardor.

Contradição







Na urbanidade estabelecida, há ainda, a ruralidade florida
- transição de comportamento naturalmente vivido.
Buzinam-se os carros - cantam os pássaros
Correm os homens –  voam as esperanças.
À ruralidade invadida, nascem, a cada dia, pilares gigantes
morre, todos os dias, um tronco naturalmente bronco.
Aos olhos nativos – beleza
Aos olhos estrangeiros- tristeza.
Para a urbanidade invasora, a natureza reclama febril.
Chorosa, definha-se a cada segundo – perde o seu encanto.
Na urbanidade arrebatadora, o homem pensa que ganha
– mas quem perde é a criança.

Tempo

texto



Momento de certeza - presteza
Calmaria invadida -  inquietude adormecida
Momentos meus – egoisticamente meus
definitivamente meus  - levianamente meus
e somente meus e de mais ninguém.
Portas e janelas fechadas - campainha desativada.
Momento de certeza – lhaneza.
Crasso ou não
há verdades a serem ditas - doa a quem doer.
Parto aos braços do verão
e quem sabe um amor licencioso até o carnaval.
Uma bela menos fera mulher.
Um talvez na incerteza do ter.
Um quem sabe na certeza do ser.
Parto no colo da brisa vadia
Busco o silêncio perdido
mas, que não  seja a solidão.
Momentos de clareza - certeza no coração.









Feminina

mulher


Tu tens um nome.
Tens o amor que brota de tuas entranhas e veste a tua alma.
És forte.
A tua fé é maior que tudo – rasga a dor, semeia o amor.
Tu tens um nome – MULHER.

Sensual


poema



Tarde clara e delirante
claridade incandescente
luminosidade insistente
Tarde ardorosa
sonora
voluptuosa
Afora
aqui dentro
- mente preguiçosa
silenciosa
numa malemolência
cadenciada
por um vai e vem
gostoso que só.

Iluminada


Ao meio do dia
claridade consumida
Mente iluminada
pela luz do sol
- deu à luz a poesia.

Do outro lado da rua






Quando saí de sua casa
olhei pra cima
e
vi
um céu mágico
bailado por nuvens cinzas
- meninas brincando
ao redor da lua.
Quando saí de sua casa
olhei pro céu
e
vi
uma lua clara
quase inteira
tão verdadeira
quanto a tua lua cheia
vestida de densas nuvens
e vigiada por uma estrela-guia.
Quando olhei para o céu
lembrei-me de ti
e de tua joia rara
tão rara quanto tu és
Valeria Soares
- amiga verdadeira.

Íntimo








É uma dorzinha miúda que corrói aos poucos; que entra pelo corpo através do ar respirado.
É uma dor miudinha que se aninha no peito e bate forte no coração.
É uma coisa que ninguém quer ter.
É uma coisa que penumbra os olhos e que afasta o sorriso temporariamente.
É uma coisa só minha, uma dorzinha só minha e de mais ninguém.
É uma saudade só minha, só minha, e de mais ninguém.







Tarde morena



A tarde chegou morena e doce.
Ela chegou trazendo consigo uma canção
na forma de vento manso.
- trouxe, também, uma chuva fininha e bailarina.
A tarde chegou aromatizada pelo passado
e refrescada por lembranças brandas.
Ela chegou tão morena e tão doce
que  ganhei tempo olhando-a pela janela
- sentindo-a no cheiro da terra molhada
e nas canções do vento.

Mudança







Circunstancialmente parto
em setembros floridos
manhãs amarelas
tardes prateadas
e noites marinhas.
Transitivamente parto
em ventanias
descanso em calmarias
e sonho deitado em tapete
mágico.
Obliquamente parto
em setembros floridos
em busca de dezembros quentes
 - Eu parto simplesmente.

REFUGIO

Aqui tudo é sagrado
O gavião e o pássaro
O piar da coruja
O tatu invasor
A cobra que visita
E a perereca que grita
Aqui tudo é sagrado
O ninho do beija-flor
O noturno ouriço
O gato no mato
A cotia
Aqui tudo é sagrado
O lagarto sem rabo
E as meninas aflitas
Luli, Lolita e Olga Maria
Minhas cadelas vira-latas
Que só me dão alegrias
(Elas não estão mais aqui)

Paulo Francisco



REFLEXO



Quero mais que o espelho

quero na menina do olho

a minha imagem

refletida

mergulhada

em água doce.



FRENTE FRIA (ii)

Manhãs nebulosas
ventanias frias
sóis gelados
gente encolhida
coração apertado
ao meio dia
Outono que se vai
num valsar lento
de um noivo apaixonado
entre folhas que se agitam
Bailarinas frenéticas
rubras, amarelas -
pálidas meninas
levadas pelo vento
em melancolia
Manhãs de outono
aquecidas pelo carvão
da lenha queimada
que virou cinza.

TOLICE


Hoje acordei torto
reclamando de tudo
virado
abaixei o telefone
fui para a varanda
e fiquei na rede
olhando o céu azulado
esperando chuva
que não veio
hoje acordei velho
como dizem por ai
rabugento
e quando dei por mim
perdi um tempo danado
enfezado comigo mesmo
emburrado sem motivo
nem pesadelo tive
pra tamanha basbaquice.

DESPEDIDA

O pátio vazio
Gramado não pisado
Silêncio quase normal
Se não fosse o vento
Na janela do castelo
Convidando-me a sair
E, eu, o último fantasma
Insisto em ficar.
Não vou embora antes de cantar
a beleza deste lugar.

TREMOR

Rajada de vento

que arrepia

seca o corpo

em tempestade

trovões

relâmpagos

flashs

corpo-terremoto

corpo-agonia

corpo- majestade

rajada de vento

que esquenta

caminha pelo corpo

Calmaria...

Prazer



Ficamos naquela grama verde tomando banho de sol. Banho de sol, sozinhos, juntinhos, no parque vazio de gente e cheio de amor. Tomamos banho de sol feito aborígenes naquela tarde quente invernal - cheia de sol, sal e calor.

Prazer II




No adormecer da tarde
espero o céu marinho
E feito menino
fico aqui, quietinho,
a me balançar
Gosto desta varanda,
gosto desta rede
gosto deste verde
pra namorar

A RESPOSTA CERTA




Basta uma única palavra
Não quero um texto
Rejeito o terço
Outro jeito
Nem pensar
Basta uma palavra
E nada mais
Sem discurso
Juro
Não vou aguentar
Basta dizer-me
A palavra necessária
Exata
Uma palavra basta
E mais nada
Basta somente a magia
De um sim.

BURRICE




Nem mesmo o cheiro das flores
Os cantos dos pássaros
A luz da lua
O vento em forma de brisa
As batidas fortes em meu coração
As lembranças eternas
Nem mesmo tudo isto junto
Faria ressuscitar aquele amor
Pois sou teimoso
Hei de morrer assim

CANÇÃO DE AMOR





Meu coração estava acinzentado
Desacelerado
Revés
Por isso fugi daqui
Desapareci
Embarquei sem rumo
Fui à procura de mim
Caminhei até os confins
E lá permaneci
Descobrindo afinal
Que não é o fim
E voltei
Pra amar você
Mais uma vez
Meu coração está apaixonado
Acelerado
[Vicissitude]
Por isso estou aqui
Apareci
Desembarquei
à procura de ti.

FRAGMENTOS




Não sei mais quem sou
Estou perdido em mim
Navego em ares alheios
Busco o brilho do sol
Vago em estradas encharcadas
Caminho em mares mortos
E só encontro pedaços
Amassados
Desbotados
Esquecidos
Estou em busca
Procuro por mim
Não sei se me encontrarei
Não conheço o caminho
Nem o encanto que recupere
O amor que se perdeu

VÍCIO





Eu não posso deixá-la agora
Meu sangue não foi depurado
Ainda continuo viciado
Dependente de você
E mesmo que te tirasse
De minhas veias
Precisaria mais de uma vida
Pra que saísse de minha alma
Sou viciado
Dependente
De seu amor
E sem ele
Só sentiria dor
Ficaria doente
Descontente
Desassossegado
Magoado
Retardado
Sem norte
Seria a morte
Para mim
Então, não me mande embora
Imploro:
Não é o fim.

INVASORA





















Chega sem pedir licença
atrevida se instala de mansinho
Numa corda bamba
- eu me equilibro
Invasora de minha alma
Ferina - ela sorrir
Nasce-me uma fogueira
que queima, queima
queima alheia a mim.

REQUERIMENTO







Tristeza, a porta está aberta

Não demore por aqui

Não tenho tempo

Pra chorar

Só tenho tempo

Pra sorrir

Dizem que a felicidade

É passageira

Mas ela só chega

Se você partir

Então não demore

Vai embora

Eu quero ser feliz

PEDAÇO DE MIM



Não quero nem saber
se vou ser clichê
eu te amo
não sei viver sem você
quero a sua inocência
o seu jeito de ser
tô perdido/em conflito
aqui, sem você
não quero nem saber
se vou ser repetitivo
ainda acredito
em seu amor
venha
sem problema
estou sem dor
te espero
sou sincero
quero o seu calor
por um dia
por uma hora
por um segundo
por um alô
a saudade mata
dilacera
arrebenta coração
estou sem fôlego
sem ação
no sufoco
perdido/louco
sem você
João
Meu filho!


(Poema publicado dentro de um texto meu - resolvi publicá-lo solto por aqui)

LUCIDEZ








E a tela que era branca
se tranforma, se mancha
borrões, traços inacabados
surgem
E o branco que era cor
se tranforma em lembrança
branca, neve, leite, pele
E a lembrança que já não é
mais branca se tranforma,
se mancha em figuras inacabadas
opacas, sem cor
E a tela se rompe
não há mais tela - nem lembranças
não há artérias, não há pulso
E o branco ficou negro
e o negro se transforma
em todas as cores
abstratas, inexatas
Essim o louco dorme
no mais normal dos sonos
e quando acorda
uma nova lembrança
uma nova esperança
uma nova criança surge na tela branca

Garrido



Minha namorada amada
iluminada inspiração
Minha vida perdida
se foi com a desilusão
Minha namorada amada
ilustrada em meu coração
Minha namorada amada
encontrada
libertada
querida
garrida
Amada namorada
tu és minha canção.

Água na boca



Na contra mão da fábula
há uma nova  estória
- a perereca sapeca
levada da breca
quer se transformar
em cinderela.
Mas quem tem coragem
de beijar a fria boca
da olhuda de pernas tortas?
Tadinha!
Sozinha, permanece pulando
de lagoa em lagoa como boba
a olhar desconfiada
na esperança
do amor da outra.

Simplesmente



Maria tentou ser mais que um nome.
Ela tentou ser flor, tentou ser mar, tentou ser céu
Maria não teve amigos, não teve amor, não teve ninguém
Maria viveu num mundo inventado.
Maria tentou ser mais que um nome.
Não conseguiu.
Hoje, Maria tem outro nome
não é flor
não é mar
não é céu.
Hoje, Maria é simplesmente
desilusão.

Reencontro



Por que me queres?
Há marcas guardadas
cravadas
de um passado
velado
quase esquecido.
Por que me queres?
Relembrar é morrer
de novo
e de novo
cair no abismo.

Partido



Tornou-se mudo
cego
e surdo
diante daquele amor.
Tornou-se estátua
de carne fria
ao vê-lo
partir
ir...
seguir  um
caminho seu
e
sem  ele.

Escolha





Entre o sim e o não
Entre a certeza e a duvida
Entre o fulgor e a ignorância
Entre o reputado e o logrado
Entre as duas colunas
Fico com a primeira
E entre nós dois
adivinha quem vem primeiro?

Humanóide




Na mística certeza de seu ser
criou-se a imagem intima
da perfeição mecânica
Aos olhos de quem a vê
a incerteza entre o sim e o não
- Humana?

SERENIDADE




Mesmo com toda perplexidade
Continuo criança
Ainda vive em mim
O menino
O moleque
O guri
Mesmo com toda indignidade
Ainda há em mim esperança
Não sou velho
Não sou moço
Sou um ser que avança
E avançando
Cresço
Nada me espanta
Mesmo com toda maldade
Continuo a acreditar
Que há bondade
Mesmo com toda perplexidade
Continuo acreditando no homem
Sou um ser que avança
Segurando à mão de uma criança

Blecaute




Era tudo tão pequeno
tão mesquinho
que os meus olhos
cegaram-se
apagando em mim
a luz que outrora
existia.