Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
CORTÊS
Da série: eu deveria ter publicado antes...
Não venha com esta tristeza. Não venha falar de medo. Sou um todo, sou inteiro, sou amor. Guarde os seus segredos. Não quero nenhuma estranheza. Estou beleza - sou condutor. Levo meu barco no rio. Trago você comigo, persisto neste amor. Não fique na defesa. Tenha a gentileza de dizer a este pobre rapaz a nobreza que este amor te traz.
VISIONÁRIO
Não tenho bola de cristal. Não faz mal, sei o que quer de mim. Não preciso de cartomante. Sou latino. Ser errante. Minha estrada tem curvas e poeira e, é assim que sigo enfrente. Olhando pra cara dessa gente tão popular. Sei que na outra ponta é o fim. Ou seria o começo de uma velha história? Em, minha fala, não desafino. Sou filho do céu - leio as estrelas e seus caminhos. Não sou menino. Aqui não tem desatino. Não tenho bola de cristal, mas tudo bem! Não estou de mal. É só um gestual. Tudo normal quando penso em você.
Quem?
O telefone toca. Eu não posso atender. Estou distante. Não consigo
alcançá-lo. Meu corpo dói. Não me movimento. Não consigo erguer-me, preciso que
alguém ou algo me alavanque. A dor é maior que a minha vontade. Sinto-me vencido
– estou fraco.
Quantas vezes me senti assim: pequeno, incapaz, dependente e
insuficiente.
O telefone continua a tocar. Alguém me chama; alguém me
quer.
Eu existo. Tenho um endereço, tenho um nome. Há do outro lado do
telefone, além de meus olhos, alguém que me conhece. Quem será? Por que insiste
tanto? Será que ela me quer? A pessoa distante?
Maldita dor; maldita vida inválida e solitária nesta cama macia,
mas que não me serve pra nada, nesta paralisia.
Até quando ficarei aqui, sem minhas pernas, sem meu corpo, somente
com os meus braços pequenos e fracos. Braços que não alcançam as nuvens, que não
abraçam o sol, que não acariciam a lua. Eles não me servem para o que eu quero
neste imediato instante.
Maldita dor! Maldita fraqueza que invade meu corpo e me deixa menor
que a poeira acumulada em minha casa.
A campainha toca. O que adianta tocar. Eu não posso gritar e mandar
entrar o enigmático visitante.
Sinto dor. Sinto rancor. Sou um perdedor esquecido na lona do
ringue. Fui nocauteado pela imprudência sabida.
Eu durmo; eu acordo; eu durmo; eu acordo e não durmo mais. Eu quero
rolar, eu quero andar, eu quero correr, eu preciso gritar. Mas, meu peito dói,
minhas costas doem, minha alma dói.
Tenho sede, tenho fome, tenho medo. Quero acordar desta angústia
surgida. Preciso de uma mão que me guie. Por que crescemos? Por que não
permanecemos eternos anjos? Quero asas pra flutuar, voar para um mundo
distante.
O telefone toca, toca, toca, e eu não posso atendê-lo. Ele não está
ao meu alcance. Maldito barulho irritante. Tanta tecnologia pra um
errante.
Que alguém me chame; que alguém me diga que tudo não passa de
pesadelo. É um pesadelo? Estou dormindo? Ou simplesmente estou perdido no
tempo?
Não, não é ficção, não é delírio, não é literatura pura. Talvez,
seja tudo isto e um pouco de realidade – realidade nua e crua. Nua? Crua? Ou
vestida de hipocrisia retumbante?
Quem é você que insiste em telefonar? Quem é você que não para de
tocar a campainha?
Quem?
Quem?
Quem?
Quem é você que toca meu coração?
Quem é você, que mesmo distante, me acorda deste delírio e me tira
desta prisão?
Quem é você,
Que acredita em mim, mas duvida de minha dor exposta?
O telefone toca
Toca
Toca
E eu sem saber o que fazer, neste delírio textual, desenho nas
entrelinhas, a minha vida bandida, perdida e esquecida, depois deste acidente
transcendental.
A OUTRA
Mudou de nome
trocou o sobrenome
outro retrato
- é fato
tem um novo querer
errou no passado
mudou de estado
- é certo
não vai mais sofrer
não é mais fulana
deixou de ser sicrana
pra ser a dama
de um sonhador
- é musa
- é rainha
acorda tranquila
nem acredita
café na cama
- Bom dia, meu amor!
INSÔNIA
Tudo calmo - parado
o céu que antes era negro,começa a se transformar num azul de metileno
Ouço, espaçadamente, carros deslizarem na pista molhada pelo orvalho da madrugada
tudo parado - calmo
O azul de metileno se desintegra manchando o espaço aéreo
E, lá longe, o galo insiste em anunciar que já é quase dia
Tudo...quase tudo imóvel
Percebo ruídos, zumbidos
sei lá...
Sinto minha respiração que ofega não me deixando no absoluto silêncio
já não mais importa
O céu começa a ser invadido pelos primeiros raios
Ouço vozes,conversas,risadas
São os boêmios chegando em plena madrugada de quinta
São os trabalhadores indo para mais um dia de labuta
E entre ruídos diversos
portas de aço rangendo de bares e padarias
contribuindo com a sinfonia do bom dia
E, para completar, os pássaros cantam em minha janela
e eu que já não tenho mais o silêncio absoluto
me viro e durmo.
Paulo Francisco
De carona
Carregadas pelo vento, as folhas se agitam.
Elas voam acompanhando o grito perdido no tempo.
Carregadas pelo vento, as palavras voam
- voam em torvelinho -
formando os ninhos dos passarinhos que cantam na multidão.
De carona com o vento, voam os meus pensamentos em busca de teu coração.
Ele que ribomba, ecoa, insensatamente, a mesma canção.
Paulo Francisco
Paulo Francisco
Revelação
No desentendimento - tudo revelado
na revelação - tudo acabado
e no fim de tudo - adeus
e no adeus - tristeza
e na tristeza - saudade
e na saudade - poemas
e nos poemas - você
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