Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
SEM VOLTA
E se vai...
O tempo
tempo perdido
jogado ao vento
tempo que sobra
que não enrola
Tempo vivido
uma história
E se vai a vida...
jogada na brisa
que balança
que lança na água
folhas mortas
E se vai...
O tempo pardacento
da mesma história.
(Um dia eu volto)
PRA VADIAR
Aqui faz sol...
tem dia claro
tem brisa fresquinha
e uma linda visão
Aqui faz bem...
tem cochilo após o almoço
e muita rede pra embalar
tem viagens insólitas pro músculo relaxar
Aqui tem sombra
tem frutas maduras boas de chupar
Tem música baixinha que é pra ninguém acordar
Aqui tem silêncio...
barulhinho só de rede
¨roc-roc miudinho¨
até o vento acordar...
Resposta à Valeria Soares
Valeria, minha amiga
Hoje, já nem ouço tanto o Fagner, mas já fui fagnermaníaco sim, como djavaneava e caetaneava também.No meu computador tem mais jazz e blues. Mas a saudade de ti, também é grande.
Nossa... já tinha me esquecido daquele tempo do Ensino Médio. E como eram bons aqueles recreios musicais, inventado por mim e que vocês aderiram de imediato – Não me lembro se tinha um nome específico – mas me lembro do cantinho da bossa, que cantávamos baixinho, somente músicas antigas. E do cantil que chegava pra mim no meio da aula? Eu sempre de boina – não sei por que eu usava aquilo.
Os meus LPs da Bethânia, do Fagner, do Caetano, do Vinicius, do Chico foram substituídos por CDs. Tenho a coleção completa de quase todos eles.
Eu não era tão debochado assim, como você fala. Eu era? Ok, só um pouquinho. Gostava de ver o medo nos olhos da turma pensando: ¨Quem será a vítima de hoje... ¨ Era divertido na época. Sandra Mara ficou sem falar comigo durante um bom tempo. Só voltou quando fui a vítima na sua primeira aplicação de injeção. Lembra? Fiquei com o meu magro braço roxo por dias.
E as cervejadas no final da aula com direito a orquestra muda – você pagou o maior mico em plena Praça.
O nosso hino era o samba de roda.
Lembrei da Soneide de porta bandeira – conseguia ser mais magra que qualquer um. Você me chamava de peito de passarinho – caramba! eu era muito magro também.
Também lembrei do nosso amigo Antônio e dos que foram embora cedo demais...
Magrinhas? Sim. Mas era porque ainda não sabia o que era bom de verdade. Transcendi e faz tempo...
Fico imaginando como eu podia ajudar vocês em matemática se odiava a matéria. Mas qual a matéria de que eu gostava na época? Ah, sim de matemática e física porque íamos para o fundão da sala.
Nunca tive dúvidas com relação a nossa amizade. Sempre acreditei nela. Sim, passamos por muito, continuamos amigos.
Não me lembrava do telefonema pra você sobre a morte da Elis, mas me recordo que trabalhava no Centro do Rio e não fui ao show dela pra acompanhar uns amigos no show de Bethânia no Canecão (que já não existe mais).
Somos do tempo, minha amiga, de muito mais. Somos do tempo da lealdade, de acreditar em nossos sonhos e seguir em frente. Tão diferente de agora. Somos do tempo de grandes shows em prol da democracia, de filmes e shows censurados. Lembra de Hair? Tommy? Matamos aula pra ir assistir – não éramos diferentes de qualquer estudante.
Faz muito tempo...
Eu fui mais rebelde que você, mais rebelde que tantos outros. Mas foi você que machucou o braço num desastre de carro, porque saiu cedo da escola - com dor de estomago e, em vez de ir para casa, a galera desviou o caminho e foi bater pega. A minha rebeldia era outra – coitada de minha mãe.
Não me esqueço do tempo em que eras locutora de rádio – e que voz!
Pois é amiga, já dizia a canção: ¨Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito.¨
E certamente eu tenho você nele
( Resposta ao post de Valéria http://valsoaressilva.blogspot.com/2011/08/mal-tracadas-linhas.html)
BOAS NOVAS
Amanheceu o dia
aparente calmaria
que devagarzinho
enxugou o vinho
e secou a pele
E depois da calmaria...
Quem diria!
Mais ventania
sem vinho derramado
ambiente iluminado
a luz do sol.
E o vento trouxe consigo
barulhinho...
mais barulhinho...
barulhinho bom.
POLISSÊMICO
Há gozo nas palavras...
Em ritmos variados - lentos e acelerados
há pura satisfação de quem escreve
Na pura magia das combinações
existentes das palavras
há desvarios/há ambiguidade
há sentido/ há vontade de quem lê
Devoremos as palavras!
Devoremos as frases!
Devoremos os textos!
Canibalizaremos os nomes
e depois de tudo mastigado
regurgitaremos um novo sentido.
PROVOCANTE
Vai pensando...
Nem tudo que está escrito foi dito
nem tudo que foi dito está escrito
o vento é o vento
o sol é o sol
a lua é a lua
Na palavra há palavra
Vai pensando...
nem toda palavra é bendita
nem toda palavra é maldita
nem toda expressão é entendida
nem tudo é pra ser compreendido
há palavra de fé
há palavra de fel
há palavras em mim
há palavras em ti
o que nos falta?
vai pensando...
na formulação de um texto
na formulação de um êxito
nem tudo pode ser gozado
nem tudo pode ser destruído
o que nos resta é a palavra
que pode ser bem dita
que pode ser mal dita
Vai pensando...
na palavra
porque há palavra na palavra
e por não ser falada
e somente ditada
nem tudo é o que está escrito
ou o que está escrito não é tudo
vai pensando...
há palavras em ti
há palavras em mim.
¨Face to Face...¨
Já fui seu amado
já fui seu amigo
já fui admirado
já fui esquecido
[mas nunca serei
um suicida]
Cara a cara
é o que nos falta
pra pararmos
com essas brigas
se não chego em sua casa
saudosa você fica
se adianto a chegada
teremos brigas
se espero resposta
ao vento eu fico
e quando bates em minha porta
nunca é de bom agrado
é sempre pra mandar
um recado malcriado.
RUÍDOS
E no barulhinho do vento...
cortinas bailarinas
flores dançarinas
chamas ondulantes
pele que arrepia
vinho derramado
manchas de um tinto bom.
E no barulhinho do vento
uma canção/um poema
uma viagem/ verde-marinho
corpo em paz.
E na companhia do vento...
barulhinho...
barulhinho...
e muito mais.
APELO
Não sei se terei
tempo de atravessar
toda a estrada. Há muitas
paradas e, certamente,
todas necessárias.
Não sei se conseguirá
me alcançar, mesmo,
evitando as paradas
que porventura julgue
desnecessárias...
meu tempo
seu tempo
minha ida
sua ida.
Não corra, porque ando
devagar e, como agora,
divago.
E se por acaso eu parar
por qualquer motivo
e você prosseguir
e me alcançar
- coisa que eu duvido-
não me estenda a mão
pois se eu estiver deitado
é porque foi inevitável.
REINÍCIO
E depois de tudo...
tudo índigo, tudo azul
todo céu, todo blue
[mesmo que não seja no sul]
tudo calmo,
tudo raro,
tudo claro.
[mesmo que só seja no norte]
Insisto em dizer:
- se faz necessário a morte
para um novo amanhecer.
Aqui, tudo indo
tudo lindo
em perfeita sintonia
estrelas e luar
e muita preguiça de rede.
PRESENTE
Ele sai da penumbra e descobre uma luz em cores.
Ainda cego e fraco, senti sua pele aquecida.
Agradece o sabor agradável daquele mormaço
que aos poucos, evapora a camada fina de gelo
que outrora preservara rancor e desesperança.
Agora, completamente nu e inteiramente livre
caminha em direção à luminosidade oferecida.
Não se importa mais com formas ou cores
da vulnerabilidade do existir. Busca em si, a verdade.
E pergunta: e agora?
INCÓGNITA II
Não venha me rotular
sou livre
liberdade conquistada
não possuo código de barra
não estou em prateleiras
muito menos à venda
não me mande pra fogueira
sou apenas o mais moderno
dos neolíticos
se a minha pedra reluz
não é magia
não é bruxaria
é só uma questão de polidez.
Não me mande embora
não precisa empurrar
eu sei voar
basta uma janela
uma abertura qualquer
vou de braços abertos
num eterno flutuar.
Quem sou eu?
nem eu mesmo sei
sou um homem que ama
um homem que chora
um pássaro na janela
um sol que invade o seu quintal
Quem sou eu?
nem eu mesmo sei
se plano ou tridimensional
se razão ou emoção
Talvez seja tudo isto
travestido em versos virtuais.
HÁ.
Eu nunca deixo de sorrir porque os tropeços de hoje
serão as gargalhadas de amanhã.
Não guardo nada que não queira
se tenho nomes e cores em meu coração
é porque são necessários à minha existência.
Não sei quanto tempo há
mas que há esperança
ah, isto há!
E ao apito do trem, corro à plataforma
na esperança de encontrar o bem-querer...
E se ele não veio não desisto/volto a sorrir,
porque sei que amanhã o trem voltará e na plataforma estarei.
Meio menino, meio homem
sempre ouvirei o apito do trem
[acredito]
Pego carona em vagões coloridos amarelos e azuis
Viajo ao infinito - ensino ao maquinista uma nova alquimia
e enquanto este bem querer não chega
– invento, tento, canto ao coração
Não sei quanto tempo há
mas que há esperança
ah, isto há!
Corro pelo tempo, lanço-me no espaço, distraio-me com os astros
porque a esperança - é o que há.
E nestes trilhos urbanos, fico mais humano, não deixo de amar.
E entre esses amores, descabidos,desvalidos
vivo à esperança. porque é o que há.
.
.
ALTER EGO
Ele anda por aí
sem destino
feito um menino
criando formas
e situações
vendo fantasmas
e ilusões
Ele anda por aí
destino de menino
vagueando em outros
mundos
cigano
Ele anda por aí
coração mercador
sem amor
sem rancor
sem rumo
vagabundo
dono de mim
MUDANÇA DE TEMPO
[O céu anunciou dia bom.]
Enquanto nuvens brincam
e se desfazem em bailarinas
e o sol transforma tudo em ouro
Ele, como um tolo, vela
em calabouços por um amor
que não existe mais...
[O céu anunciou dia instável.]
E as nuvens, agora, tristes
por não terem sido notadas
correm desesperadas
e se desfazem em lágrimas
crescem os rios
nada o satisfaz...
[O céu anunciou estrelas.]
E ele, guiados por elas,
encontrou a lua globosa.
e o peito lactocolorido
já não sofreu mais...
[o céu anuncia dia estável e muita paz]
PARTIDA
Voo alçado - alçapão vazio
Mar agitado - vento frio
Amor acabado - coração vencido
Brilho no olhar - desejo permitido
Quando tudo vai mal - o inferno é vital
Sem nau - vou de trem
E tudo bem, meu bem.
ATRAVÉS
Trans
passo
Trans
Firo
Trans
gênico
Trans
porto
Trans
a
ção
Trans
mito
Trans
ato
Trans
trans
Trans
bordo
Trans
cendo
Trans
corro
Trans
fixo
Trans
fundo
Trans
ido
Trans
grido
Trans
verso
Transformação da palavra
NOTÍVAGO
Minha noite tem luar
Meu dia/meio-dia
Minha tarde tem esperança
Ah!Que passe logo o dia
Sou da noite - sou noturno
Mesmo que seja de dia.
FINAL FELIZ
O menino, com suas cores nas mãos, viaja até a imensidão
à procura da menina que queria o sol e se perdeu
O menino mergulhou até o fim de tudo...
Ele foi a procura dela que queria o brilho do sol
Mas ele, que a queria, foi até o fim a sua procura
Mergulhou em esperança com as cores em suas mãos
E uma explosão de cores fez chover na imensidão
E o menino a resgatou da escuridão
E os dois em cantigas flutuaram em névoas de cores
retornando à clar[a]idade.
E eles nunca mais se perderam
Nunca mais...
PACÍFICO
Sob meus pés - marrom
no horizonte - amarelo
sobre mim - azul
ao meu lado – verde a florir
na lembrança - esmeralda
na esperança – vontade
todas as cores de pele
pele: furta – cor.
E no peito - ton-sur-ton
o mesmo som em tudo.
APAGAMENTO
Eu, que nada sei, vivo a estranheza de não mais sentir. Estou cego e dormente. Já não percebo como antes. Não há lua no céu. Não há ondas no mar. Não há... não há. A fotografia está se apagando como se não quisesse mais existir. Tempo de desesperança; tempo de desencontro. Eu que nada sei, fico encarcerado à espera de um raio amarelo que me leve ao começo de tudo. Já não sei quem sou. Perdido, fico num deserto de emoções. Eu que nada sei, vivo a estranheza de nós dois.
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PENUMBRA
A estranheza fez-lhe reclusa de seus pensamentos.
Ela sofre em silêncio o que deveria ser gritado.
Não se apavore, um dia chega a contento,
o que não tem no momento
- devora-te em sombras e lamentos.
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VOCÊ
Meus olhos te seguem
minha boca te agrada
meu peito te guarda
meu coração te embala
minhas artérias te regam
e minha alma te ama.
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