AMOR-PERFEITO






















Quero todos os sinais
uma chuva fininha
uma estrela sozinha
uma manhã quentinha
um recado no espelho
uma flor vermelha e muito mais
Quero os sinais de caminhos paralelos
marcas felinas em minha pele
sopro serenado ao meio dia
uma tarde inteirinha
de muito amor e nada mais
Quero os sinais de uma magia
de uma bruxa linda/feiticeira minha
que me leve a flutuar na lua
num céu florido de estrelas
Quero os sinais e muito mais
uma boca macia
e unhas que arrepiam
o meu coração
Quero todos os sinais
e muito mais...

OUT
















Na palidez desse tempo invernado
encontro-me perdido em paletas vazias
não há cor, nem sabor
não há contorno, nem recheio.
[transparência fantasmagórica!]
Nas emoções de um silêncio noturno
Procuro a ponta da fita
que um dia foi laço.
Quem sabe eu não me acho?

TOM MAIOR















Minhas montanhas acordaram verdes.
Elas nasceram hoje numa esperança ton sur ton.
Acordar e acreditar que tudo vai dar certo
– esta é a minha montanha.
Caminhar em trilhas estreitas, subir e descer,
para chegar ao cume – esta é minha esperança.
Desejos alcançados; desejos a serem alcançados;
desejos antigos; desejos nascidos; simplesmente desejos.
Nesta metáfora, não sou o montanhês
– Eu sou o passarinho.

Paulo Francisco

PLANTIO



 




















O cacto, no centro de tudo,
resiste a todas as intempéries:
o vento carrega a essência
o sol desidrata a vontade
a chuva alaga o sonho
a tristeza fugaz - evapora
e o sorriso perene- irradia em cores
O cacto, no centro de tudo,
sustenta entre seus espinhos
a flor vermelha.
E eu que quero viver
imito o cacto
afasto os espinhos
e planto você.








Hoje, estou aqui também:   http://mente-hiperativa2.blogspot.com/

CAIXINHA DE AMOR

















Sabe, eu tenho um amor que guardo

numa caixinha chinesa

forrada de veludo vermelho

[ele é muito delicado]

E de quando em quando

abro a caixinha pra vê-lo

não falo

Só olho

Não mexo

Só olho

Quando chega à noite

fico com ele perto de meu peito

esqueço do tempo

não falo nada

só o sinto

é tão delicado

esse meu amor

que qualquer hora desta

o vento vai desmanchá-lo

Por isso guardo-o

numa caixinha chinesa

Conservo-o o máximo que posso

Já tentei de tudo - declarei-me

mas ele não fala nada

nem que sim

nem que não

Estou em busca de um pó mágico

em que eu possa banhá-lo

Não precisa ser ouro

nem prata

tem que ser mágico

Por quê!?

Ele foi enfeitiçado por um desamor malvado

agora fica ali, cerrado na caixinha, com medo de mim.

CHUVA SERÔDIA




















Que eu ainda viva

o amor que todos dizem

que tenha aroma de amora

gosto de brisa numa noite de lua

Que eu viva e possa contar

o amor que todos dizem

não há distância

nem ventos fortes

para exterminá-lo

Que a morte não me chegue

antes que aconteça

este amor que todos dizem

e que ainda não me veio

por completo

repleto

desse jeito que todos dizem.

QUIXOTESCO





















Que a sonata da madrugada
traga-me a esperança em tê-la
mesmo que tenha de minha janela
o desvario em vê-la
numa imagem produzida
dos acordes de um piano
o grito esperado para socorrê-la
Que o silêncio da madrugada
seja interrompido por um pedido
prometido
e que não seja um sonho
ao atendê-la.

PONTO DE VISTA























Procuro a minha alma gêmea
mas que não seja tão gêmea assim
não caberia no mesmo espaço
dois de mim
Procuro o meu oposto
mas que não seja tão oposto assim
não suportaria tamanha distância
Acho que vou deixar pra lá
na hora certa haverá um encaixe
Enquanto isto, vou experimentando
tentando
levando
quem sabe!

AOS QUARENTA (ou aos cinquenta)















Já não enxergo como antes
Preciso de óculos de grau
Não consigo ler entre as linhas
de seus pensamentos
Nada é mais claro como o ontem
Tudo é tão natural
não vejo placas de proibido
nem de contramão

NORMALIDADE















Minha insanidade é tão perfeita
que os normais me confundem
e os loucos me rejeitam
Esta é minha natureza

À Guilherme de Almeida



















Sigo no meu barco de papel
na corrente da água da chuva
guiado por mãos pequenas
que seguram o leme imaginário
num tempo invisível.
E o branco já não tão branco assim
margeia em letras inclinadas
o sonho que um dia foi do menino

VESPERTINO


















Quero o charme da tarde
cobrindo-me de esperança
anunciando-me a noite lua
cheia
vermelha
e junto dela
um colar de estrelas
Quero... quero sim
a lua inteira
o céu esplendido
azul marinho
convidando-me a viajar
num mar de astros
Quero deixar, entre as nebulosas,
meu rastro de ex suicida.




DESOBSTRUÇÃO

Para  Michele Pupo















As minhas gavetas estão abarrotadas
Não consigo mais fechá-las
Tem frasco de doces lágrimas
Potes de sentimentos fragmentados
Espelhos rachados com duplo reflexo
As minhas gavetas já não fecham
Estão emperradas
São mais pesadas que minha força
Não consigo empurrá-las para dentro
Nem tão pouco para fora
As minhas gavetas estão cheias
São cartas
São bilhetes
Retratos desbotados
Sentimentos diversos
Do profano ao santo
Frascos de remédio
Fracos de veneno
Preciso esvaziá-las
Com urgência!

BALÉ






















E a musica preenche
o ambiente
e o corpo demente
rodopia
[rotação e translação]
movimentos mágicos
em um universo
de cores
todas as cores
no véu da noiva
todos os sonhos
na retina
da bailarina
e na magia da musica
ela se encontra menina
franzina
e sonhadora...

REMÉDIO

Quando me pego cantando a nossa música
O que faço!?
Escrevo...
Quando me pego lembrando de ontem
O que faço!?
Escrevo...
Quando lembro de teu sorriso
O que faço!?
Escrevo...
E ao lembrar de você agora
Faço o que devo fazer
Escrevo...Você!

SEGREDANDO






















Na construção de meus versos assimétricos
- ritmados pelo pulsar de minha essência
que caminha em artérias e veias -
faço do encarnado coração - o porto
- que abriga teu nome/tua imagem.
E quando não aguento mais de saudade
abro meu peito e te deixo fluir lentamente
pela derme que cobre o meu sentir
Fecho os olhos e sinto-te tão perto
e num bailar emocional,
num delírio noturno
desfaleço em urros
num eterno submergir
Na construção de meus versos
assimétricos
confesso: não sei viver sem ti.

APAIXONADO
















Sabe, não sei o que acontece
mas quando ela fica triste
entristeço-me também

Não sei o que acontece comigo
fico aqui olhando o tempo
vendo nuvens branquinhas
que passam ligeiras num céu de fundo azul

- um céu de outono com raios que douram minha pele

Sim, fico aqui como um bobo pensando em céu e estrelas
esperando ser carregado pelo vento frio
como acontece com as folhas rubras das amendoeiras

Sabe, eu não sei o que acontece comigo
fico paradinho como passarinho
olhando pra chuva, mirando a estrada -  desejando viajar

Sabe, eu não sei mesmo o que está acontecendo
às vezes sinto uma dorzinha bem aqui, no meio do peito

Não, não é dor de doer!
é dor de provocar respiração profunda
puxo todo ar que posso só pra ver se vem junto com ele
o cheiro dela.

Eu sei! Que não é possível
mas deixe-me pensar que posso
sugar o mundo
engolir estrelas
e lamber a lua

Não ria, você nunca sentiu o que estou sentindo?
Não!
Ah! Mas é tão bom
da´um friozinho na barriga
uns arrepios repentinos
da pontinha do pé até aqui
na nuca

Ah! Você tem que achar alguém que possa ter fazer feliz
você vai ver como é fácil voar até outros planetas

Sabe, eu não sei o que está acontecendo comigo
Ontem mesmo dei bom dia pra vida
sorri para o gato
beijei uma margarida
e quando percebi estava aqui
confessando a você tudo isto