Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
Orgulho de ser
Na combinação de seus antepassados
registrou-se em marca d´agua
quase imperceptível – a cor d´alma.
que não era branca
que não era amarela
que não era parda
que não era vermelha
que não era preta
- era a mistura de todas elas
na transformação da raça.
Na combinação de seus antepassados
misturaram-se os continentes
registrou-se em sua alma
a constituição genotípica de uma raça
tipicamente humana
tipicamente Brasileira
fenotipicamente diferente.
Se não negrejado externamente
por dentro inteiramente negritude.
Sem se deixar negrume
sem se deixar negróide
e muito menos negrado
pois em sua veia corre o sangue
de uma raça – a negra.
É proibido!
Guardei a imagem
na lente de meu coração
Sou amorosamente
egoísta
Sou assim mesmo:
contrabandista de amores
clandestinos.
Clareza
Quando abri os olhos
deparei-me
com tons azuis calmos
tingidos mansos
rajados no céu branco
de minha paz.
SEPARAÇÃO
Guerra
Batalhas miúdas
Corrosão
Implicâncias
Confusão
Não me encoste
Sai pra lá
Não te aturo
Estou mudo
Não quero falar
Guerra
Batalhas miúdas
Coração machucado
Alma ferida
Vida partida
Vidas esquecidas/ telepáticas
Silêncio
Não quero ouvir
Guerra
Batalhas estúpidas
Feridas expostas
Tudo errado/ pecado
Te mato
Eu morro
Não corro
Sai de mim
É o fim
De uma união.
Frialdade
Nas imagens sensuais coladas e desejadas
surgem às palavras: metáforas em prazeres
retidos - conflitos
Na imagem real - Frieza
Na virtualidade exposta - Beleza.
No conflito interno - Perversidade
Na aparência exposta - Bondade
Dualidade necessária a sua sobrevivência
APRENDIZ
corpo treme
Não tem jeito
Sou marinheiro
Neste mar
Num vai e vem
Eu navego
Não tem como enjoar
Meu corpo chora
Não tem jeito
Sou menino a brincar
Acelero
Fico lento
Tenho medo de parar
Meu corpo aquece
Não tem jeito
Sou homeotermo
Aprendendo a amar
Obscenidade
No mistério criado
surge o tema querido
fingido por belezas
coladas/sobrepostas
a realidade crua/nua/dela
e de mais ninguém.
Horizontalidade
Quando me perguntaram por onde andei, respondi:
- No passado, resgatando o meu futuro.
Sim, trafeguei por caminhos antigos
por caminhos já percorridos
que um dia abandonara
por orgulho
por ignorância
por mediocridade humana
ou seria desumana?
- Talvez!
Sim, recuperei partes
que estavam perdidas
num passado represado
contido em mim.
Sim, voltei ao passado
pra melhor olhar o meu horizonte.
Companhia
Ainda continuo a andar.
E nessa minha andança
passei bem perto de ti
mas... ao olhar
para o mar
para o céu
e para trás
eu não a encontrei.
Neste meu caminhar
procurei
teus passos na areia
tentei
sentir teu cheiro no ar
mas um vazio ficou
pois...
não havia cor
não havia perfume
não havia flor
não havia... você.
Ainda continuarei a andar.
Seguirei por mais uns dias
este meu caminho
de sonhos.
E nele, é certo:
sempre terei você.
Estiada
Depois da chuva
o céu transformou-se
em pasto azul
e como mágica
os brancos carneirinhos
surgiram espalhados
espelhando
a nossa alegria.
Toró
E o céu derramou
no final da tarde-
- de uma única vez -
todo o suor de um dia
ensolarado
típico da estação.
Visão
Seus olhos ressaltaram
- além da textura da imagem -
o sol, o pescador e as gaivotas.
Atrás das embarcações
- cobertas pela neblina
-
o horizonte perdido
na imensa e densa
cortina cinza.
SEGREDO
Saia desta melancolia
provocada
despedida não é o fim
vamos para casa
o dia já terminou
vamos ao encontro
dos nossos
daremos uma desculpa
trânsito
hora extra
qualquer coisa
melhor que nada
vai...
Vamos para casa
sem nos arrepender
temos hora marcada
ninguém vai nos deter
somos pecado
vergonha
ninguém vai compreender
disfarce as marcas deixadas
não demonstre preocupação
amanha será um novo dia
deixe de melancolia
guarde-a em carta codificada
ninguém precisa saber
Clara
E nesta primavera
hesitada
de ventos indolentes
de manhãs mornas
de mar enjoadinho
de tardes serenadas
e noites de poucas estrelas
resta-me fechar os olhos
e sonhar-te.
E nos meus sonhos desenhados
contorno seu corpo
recubro-te ardente
sem estrelas
sem céu
sem lua
sem mar.
Nestes meus sonhos desenhados
de noites escuras
somente você me ilumina
nesta fotografia
inventada por mim.
Paulo Francisco
(ainda caminhando por aí)
Da cor do mar
Ela quer morar na praia
quer tirar dentro de si o mar
- o mar azul
Espalhar em ondas brancas
numa sonoridade única
a voz guardada em seu peito desfeito
- sem contrafeito -
em seu mar azul.
Ela quer morar na praia
compartilhar o seu mistério
nas areias claras de seu mar azul
Ela quer morar na praia
transformar em estrelas
pingentes
todos os beijos secretos de seu amor azul.
Paulo Francisco
Vento amigo
O vento que espalha as folhas secas
que faz bailar as cortinas das janelas
que desmancha levemente os seus cabelos
que leva as nuvens cinzas pra longe daqui
que acaricia a minha face
e traz macio o cheiro de jasmim
O vento que diz seu nome
baixinho em minha orelha
que canta tocando a minha pele
que arrepia a minh´alma
- e ao ver-me triste seca a minha cara
acariciando-a por noites sem fim
Este mesmo vento que espalha
as folhas secas e tenras caídas
ao meu chão
é o mesmo que me empurra
mar afora
que retira a areia de meus olhos
e me carrega em brumas prateadas.
Tenho por ti, vento amigo,a mesma amizade
de outrora, quando comigo brincava
e carregava-me em sonhos e capas,
pipas e linha, aviões de papel
e bilhetes amorosos.
Tenho por ti, meu amigo vento,a mesma admiração
de outrora, quando sentado em muros alheios
avisava-me à hora de partir.
Ah, vento amigo que nunca me deixou
sozinho em horas alegres e dividiu comigo
todos os risos e nunca me esqueceu em minhas aflições.
Ah, velho amigo, carrega contigo e imprima no céu
entre as nuvens brancas o meu nome em azul.
Luzidio
Era tudo tão mágico
tão claro
que seus olhos
fixados em mim
reluziam em minha alma
de tal forma
que de pequena
agigantou-se diante
da íntima claridade.
Canteiro
Deixemos o mundo lá fora
enfeitemos de flores
os nossos corações
e de nossa maneira
regaremos cada canteiro
com a água guardada
em nossas mãos.
Deixemos o mundo lá fora
Aqui dentro
dentro
de
nós
reguemos o que está latente
pra que depois
numa noite de lua cheia
todo o amor guardado
floresça lentamente
invadindo o mundo
num infinito querer.
Prudência
De meu choro, eu faço um rio
pra que seja lavado e levado
pra bem longe o meu sofrer.
De meu medo, eu faço vento
pra que seja carregado e dissipado
pra bem longe do meu viver.
E a minha felicidade, ah, essa sim!
tinjo-a em risos, contamino os amigos
e carimbo a minha alma de alegria.
Carrancuda
Quem não a conhece que a compre
Eu?
a conheci e não gostei
a devolvi ao bazar da vida.
Material com defeito
não tem jeito
não há remendo
que conserte a imperfeição.
Reciclar é a solução?
- Não sei...
Mas tem gente que gosta
de peças de segunda
pra transformar em objetos decorativos
mesmo que seja uma carranca
pra espantar os maus espíritos.
Passarinho
Sou livre
semeador de vidas
voo e canto naturalmente
o meu lar é reciclado
faço o meu próprio ninho
a mata é minha terra
o céu é meu caminho
sou livre
sou alado
- sou um passarinho.
Polinização
Te dou a cor
te dou o néctar
sou a flor
estou sapeca
leva contigo
a minha semente
entrega ao meu
amor
lá na frente
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