Durmo contemplando o céu marinho, acordo com ele azulzinho. Não gosto de discursos, gosto mesmo é de poesia. Odeio conversas fiadas, mas adoro uma boa história contada.
DE MANSINHO
De todos os adeuses que já ouvi
o que mais marcou foi aquele silêncio
que foi chegando, chegando, chegando...
pra nunca mais.
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SEM LENÇO
Seguro na cauda do vento
navego clandestinamente
no tempo – vento
vento – calmaria
vento – tempestade
experimento novo tempo
tempo – tempo
no olho do ciclone
num giro anti-horário
retorno ao tempo
tempo-vontade
SILENCIOSO
Durmo com a tarde
em névoa branca
agasalho-me de sonhos
aqueço-me de quarto escuro
sem estrelas
sem lua
sem céu
somente o silêncio
do vento a cantar
brandamente
Durmo com a tarde
em plena harmonia...
TUDO AZUL
Tudo conectado. Fios invisíveis e indivisíveis nos amarram na marra. Restando-nos somente amor e paz. Tudo desdobrado, marcado. Como ferida de gado no pasto. São marcas profundas que desnudam ao mundo o que satisfaz. Tudo em cores divinas na alma da menina. Tudo em primavera no caminho a seguir. Tudo azul. Tudo lindo. Instrumentos em concertos e girassóis.
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Tudo conectado. Fios invisíveis e indivisíveis nos amarram na marra. Restando-nos somente amor e paz. Tudo desdobrado, marcado. Como ferida de gado no pasto. São marcas profundas que desnudam ao mundo o que satisfaz. Tudo em cores divinas na alma da menina. Tudo em primavera no caminho a seguir. Tudo azul. Tudo lindo. Instrumentos em concertos e girassóis.
QUIMERAS
Tenho que parar com alguns vícios
[não tenho controle sobre eles]
sou dependente da ilusão
viajo em estrelas fugazes
transmuto-me a cada instante
e, mesmo não sendo louco,
converso com a lua,
aposto corrida com o vento
e tento, inutilmente, brilhar
mais que o sol.
Tenho que parar com alguns vícios
tenho que deixar de ser total dependente
de sonhos coloridos e aromáticos.
Sou dependente do silêncio
e neste vácuo interno
crio o meu próprio inverno
desvio de meu próprio caminho
e, sem destino, sonho acordado.
REMINISCÊNCIAS
Trago comigo vários amores
escondidos
deliberados
perdidos
Trago em meu peito
os defeitos
os contrafeitos
de amores sabidos
Carrego todos eles
em lembranças
e em vontades
Que outrora, eram sabores e cores
eram, simplesmente, amores.
Mas depois que debandaram
tornaram-se, nada menos
e nada mais que antigos amores
e saudades.
AMY
Mesmo sabendo do inevitável
nos horrorizamos com a sua chegada
tragédia preestabelecida
- morte- anunciada
nem toda voz é de anjo
nem todo anjo tem asas
nos horrorizamos com a sua chegada
tragédia preestabelecida
- morte- anunciada
nem toda voz é de anjo
nem todo anjo tem asas
RIACHO DOCE
Na água clara do rio
vejo tua face sorrindo
que se vai
gota salgada/ rio doce
não se misturam
gota de lembrança
rio de esperança...
na água clara do rio
vejo tua face
sumindo/indo
gota que se vai
junta ao rio/ esperança
só lembrança
até desaparecer
QUASE...
Acordei encharcado de saudade
quase não levantei
Arrastei-me em lembranças
quase não acordei
Fiquei sem ar
quase sufoquei
Fiquei em pane
quase detonei
Acordei encharcado de saudade
quase não chorei...
INDIRETO
É mais que preciso
A minha vontade é
navegar em ventos
e em estrelas
É mais que preciso a agulha
no norte,
mesmo que no sul
esteja a minha vontade.
NAMORADOS
Hoje eu não quero a lua
quero o contorno das montanhas
adormecidas sobre as nuvens
Não quero revoadas de pássaros
quero ser o próprio passarinho em voos rasantes
coçar a barriga em gramas verdes
Hoje eu não quero a rua - quero a rede em minha varanda
e num vai e vem só meu permito-me sonhar e namorar
as estrelas... somente as estrelas...
Paulo Francisco
PASSAGEM
Quando fico triste
Perco-me
fico sem rumo
sem prumo
Numa balsa
de melancolia
navego até os confins
chegando lá - berro!
até não poder mais
Já quase sem forças
remo com os meu braços
e quando chego em terra firme
não olho pra trás.
RENOVO II
Hoje, especialmente hoje,
meu peito bate saudades
meus olhos lavam minha face
e o silêncio...
que sempre foi meu companheiro
cobre-me de lembranças
Hoje, especialmente hoje,
minha carne - meu sangue
meu sangue- minha alma
minha alma – meu padecer
Hoje, especialmente hoje,
Morrerei um pouco
pra renascer, quem sabe,
dentro de mim um novo ser
Hoje, especialmente hoje,
morro de saudades
de uma vida não vivida
de uma partida sem ida
de um nome sem rosto
e de uma voz sem corpo
Hoje, especialmente hoje,
morro mais um pouco
pra renascer amanhã
com muito mais fé.
NAUTA
Navega em águas turvas
salinas
atraca em portos diversos
em marinas elegantes
em píeres envelhecidos
Navega em águas cristalinas
dulcícolas
lênticas
lóticas
[não importa]
para em praias de cascalhos finos
areias escuras ou branquinhas
e em cada uma cria um ninho
faz de seu corpo o porto
abriga no convés a diversidade
da vida parida a cada partida.
E nas docas: lembranças
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