Foi daqui de minha Varanda que tive a melhor visão de tudo, e os sentimentos brotavam como flor em solo fértil – atravessavam os muros.
Também foi a partir dela que delirei, chorei, transmutei-me para céus azuis e negros.
Foi a partir dela que também brotaram espinhos em cactos de desamor. Desterrei muitas dores – coisas da vida.
Foi da varanda da minha casa que te sonhei minha, foi a partir dela que me descobri seu. Se não deu! Problema... Um dia há de dar.
Ah, quantas vezes, na rede, conectei-me a ti e tingi-me sem querer de Petit Syrah em vais e vens delirantes. Lambuzei-me de gozo e pinot noir.
Ah, foram tantas e mesmo assim ainda foram poucas as taças de Carbenet Sauvignon ou Carmenère misturados em salivas amorosas.
Foi da Varanda da minha casa que cantei à lua e naveguei em nuvens.
Fiz-te nua em noites serenadas.
Fiz-te luz em noites sombrias.
Ah, quantos companheiros e companheiras estiveram nela a fazer-me companhia poeticamente.
Quantas e quantas vezes eu expurguei em gritos o vurmo existente em minha alma mal amada.
E quantas outras os meus gritos foram de gozo e satisfação.
Foi a partir da varanda da minha casa que colecionei amigos. Fui presenteado e presenteei alguns deles. Mas não me deixo enganar: Tiveram alguns invejosos e incompetentes em peles emprestadas.
Nela, estiveram Fadas e Bruxas; Senhoras e Prostitutas; Anjos e Capetas; Poetas e Vagabundos.
Desenhei e pintei com palavras o mar, a montanha, o sol, a lua e gente.
Tracei e percorri caminhos lunáticos. Levei comigo todos que, como eu, viajam em poemas construídos.
Era da varanda da minha casa que banhava o meu corpo nu com o vento noturno – tirava de mim todo o peso de um dia mal resolvido.
Era dela que partia e retornava de minhas viagens transcendentais.
Hoje, sentado aqui em sua soleira, escrevo este texto de desapego. Não um desapego pela indiferença, mas sim pela despedida necessária. Vontade de mudar.
Certamente estarei nela de quando em vez, porque aqui ainda é a minha casa, e é aqui que fica a minha rede pra descansar. É daqui, da varanda da minha casa, que me abrigo das chuvas.
Desço dessa realidade instalada e caminho para o outro lado da casa – o meu quintal.
Descobri que nele, há vento, há sossego, há pássaros e há sol.
Tem toda diversidade que preciso neste instante impreciso.
Descobri que nele há uma longa subida e um Varal de Cores sortidas.
Então não bata na porta, dê a volta e vá para o fundo da casa. Pois é lá que me encontrarás.
Varal de Cores
Varal de Cores
(meu novo blog)
Paulo Francisco