PAPEL MARCHÉ









Quando meus sonhos eram feitos de papel


Avião/ barco/máscara/bola
Lição de casa
Pipa voada
Balão japonês
Nem sei
Papel!
[concreto]
Quando minhas vontades são feitas de papel
Declaro
Escracho
Maldigo
Expurgo
Bendigo
Sei lá
Incluo!
[abstrato]
Quando a realidade é feita de papel
Intimação
Processo
Protesto
Será!
Assino
Recrimino
[real]
Quando a minha visão é feita de papel
Sonho
Vontade
Realidade
Verdade!?
Fantasia
Fogueira
Poesia
[surreal]

LEMBRANÇAS

Ouvi o pio da coruja
o barulho de folhas secas
o grito da ventania
e não era sexta-feira
[noite de lobisomem
e mula sem cabeça]
eram apenas lembranças
do tempo de menino
que ouvíamos atentos
as histórias de fantasmas
o barulho das correntes
em casarões assombrados
inventados por quem contava
imaginados pela criançada
e que mais tarde não dormia
apenas se escondia
com medo da velha bruxa,
do saci e do curupira.

CORPOS





















Transborda da taça
o líquido agridoce
da vida
Transborda do cálice
o liquido quente
da paixão
Transbordamento
de desejo,
de pensamento
Lampejos
Corpos fervem
numa mesma sinergia
Corpos em sonho
colados
lacrados
em calmaria.

TEMPORAL





















É chuva miúda que encharca
que apaga marcas deixadas
por queimaduras profundas
- loucuras de amor

É chuva miúda que carrega
consigo a dor de uma paixão
de ilusões adquiridas
em palavras profanas
- foi tudo amor

É chuva miúda que lava
bate na cara – desperta
- pura ilusão

É chuva miúda que não machuca
afoga as mágoas – alivia o peito
desfeito por quem partiu

É água que cai
que descama a pele grossa
saudade não permitida
parida/sofrida

É chuva miúda

É água sagrada

É chuva pedida
bem vinda
que limpa
apaga seu nome
do coração.

BANHO

















Chove!
Lavo meu corpo
na água da chuva
que cai.
Lavo minha alma
pesada/cansada
na chuva serena
que cai
Água, carregue consigo
deságue no rio
as lágrimas que caem.

CAMUFLAGEM












Escondido...
na sombra de um nome
viajo a lugares distantes
que outrora me seriam impossíveis
engano a ti
engano a mim
escondo-me numa invisibilidade
imperfeita
tapo meu rosto com as mãos
mas deixo revelado a alma
e um imperfeito coração.

MUDANÇA















Eu preciso com urgência
Sair desta melancolia
Desgraçada
Entranhada
Em minha alma
Eu preciso urgentemente
Encontrar a euforia
De ontem
Acho que preciso mesmo
É me renovar
Ser mais constante
Menos bipolar

ESTANQUE













Vedado...
Líquido contido
E não era sangue.

ESPIRAIS

















E a fumaça no quarto
desenha o passado
num suspiro
numa tragada
vejo o nada
pura melancolia
é o fim.

ULTRALEVE

















Ah! Pudera relaxar a musculatura
e num consciente desmaio
vencer a gravidade e levitar,
levitar
levitar...
Ah! Pudera ter asas
para batê-las
e na corrente quente de seu vento
planar
planar...
e nunca mais descer...