CORTÊS


Da série: eu deveria ter publicado antes...








Não venha com esta tristeza. Não venha falar de medo. Sou um todo, sou inteiro, sou amor. Guarde os seus segredos. Não quero nenhuma estranheza. Estou beleza - sou condutor. Levo meu barco no rio. Trago você comigo, persisto neste amor. Não fique na defesa. Tenha a gentileza de dizer a este pobre rapaz a nobreza que este amor te traz.

VISIONÁRIO

Não tenho bola de cristal. Não faz mal, sei o que quer de mim. Não preciso de cartomante. Sou latino. Ser errante. Minha estrada tem curvas e poeira e, é assim que sigo enfrente. Olhando pra cara dessa gente tão popular. Sei que na outra ponta é o fim. Ou seria o começo de uma velha história? Em, minha fala, não desafino. Sou filho do céu - leio as estrelas e seus caminhos. Não sou menino. Aqui não tem desatino. Não tenho bola de cristal, mas tudo bem! Não estou de mal. É só um gestual. Tudo normal quando penso em você.

A OUTRA



Mudou de nome
trocou o sobrenome
outro retrato
- é fato
tem um novo querer
errou no passado
mudou de estado
- é certo
não vai mais sofrer
não é mais fulana
deixou de ser sicrana
pra ser a dama
de um sonhador
- é musa
- é rainha
acorda tranquila
nem acredita
café na cama
- Bom dia, meu amor!

INSÔNIA



Tudo calmo - parado
o céu que antes era negro,começa a se transformar num azul de metileno
Ouço, espaçadamente, carros deslizarem na pista molhada pelo orvalho da madrugada
tudo parado - calmo
O azul de metileno se desintegra manchando o espaço aéreo
E, lá longe, o galo insiste em anunciar que já é quase dia
Tudo...quase tudo imóvel
Percebo ruídos, zumbidos
sei lá...
Sinto minha respiração que ofega não me deixando no absoluto silêncio
já não mais importa
O céu começa a ser invadido pelos primeiros raios
Ouço vozes,conversas,risadas
São os boêmios chegando em plena madrugada de quinta
São os trabalhadores indo para mais um dia de labuta
E entre ruídos diversos
portas de aço rangendo de bares e padarias
contribuindo com a sinfonia do bom dia
E, para completar, os pássaros cantam em minha janela
e eu que já não tenho mais o silêncio absoluto
me viro e durmo.

Paulo Francisco

De carona




Carregadas pelo vento, as folhas se agitam.
Elas voam acompanhando  o grito perdido no tempo.
Carregadas pelo vento, as palavras voam
- voam em torvelinho -
formando os ninhos dos passarinhos que cantam na multidão.
De carona com o vento, voam os meus pensamentos em busca de teu coração.
Ele que ribomba, ecoa, insensatamente, a mesma canção.

Paulo Francisco



Revelação









No desentendimento - tudo revelado
na revelação - tudo acabado
e no fim de tudo - adeus
e no adeus - tristeza
e na tristeza - saudade
e na saudade - poemas
e nos poemas - você

SEM PEDIR LICENÇA



Sexta silenciosa - música baixinha
na voz formosa da cantora
chuva fininha trazendo o frio invasor
E no peito um ardor - uma dor bandida
que chega felina,arranhando a carne
de quem chora - chora de amor.

Paulo Francisco

Alma lavada




A chuva chegou com a tarde
Chegou molhando a roseira
Chegou baixando a poeira
Chegou lavando a ladeira
Ela veio trazendo-me saudades
Trazendo-me lembranças
Espalhando-me vontades
A chuva cortinou a janela,
 chegou com a tarde
- deixando-a mais bela
Ela despertou-me a curiosidade
Umedeceu o meu solo firme
Refrescou-me a pele tenra
A chuva chegou em nuvens cinzas
cortinou  minha janela
Fechou-me o dia
trouxe-me a noite
fechou-me os olhos
e me fez criança.