SEM RUMO



Dói
dói como uma canção
de despedida
como a perda de um membro
Dói
dói como uma ferida aberta
como uma queimadura de sol
como dói
a saudade que tenho de ti
já não canto
já não ouço
já não sei ser eu
sou pedra
sou sombra
sou dor
sou desesperança
sou desamor
e se você
não volta
me perco
enlouqueço
tenho dor
Volte!
recupera o que era teu
minha alma ainda é tua
salve esta vida
perdida
sofrida
não deixe meu coração ateu.

ALMA FELINA























Partidas e despedidas fazem parte da vida
então não venha, meu amor, com essa tristeza
cheia de nobreza - dizendo que eu não ligo
Te digo: foi bom enquanto durou
mas eu sou mesmo assim - não me fixo
sou do mundo
as correntes já foram quebradas
E com as asas brotadas navego em ares quentes
plano/voo/não corro/caminho em estradas sinuosas
não importa se tortuosas
sou vagabundo que se apaixona em cada esquina
sou volúvel
sou vadio...
Fui simplesmente um gato em teu telhado de zinco.

Ilusão



Na busca de um amor perfeito
ela se despetala
em bem e mal-me-quer
corola nua, alma nua
Perdida em camas cruas
volta sempre pra casa em mal-me-quer
Na busca de um amor -perfeito
ela se despetala
em cada esquina
em cada rima.
Seu príncipe, coitada,
é um sapo
só ela não sabe.

Confessionário

Pequei
Ah, eu pequei!
Amei-te
alucinadamente
- demente fiquei -
e não percebi
tanta rejeição
tanta sabotagem
tanta sacanagem
tanta bobagem
por parte de ti
Pequei
Ah, eu pequei!
Quando acreditei
num amor
e esqueci
que amar
é duo
é cumplicidade
é mais que vontade
é verdade
é felicidade
é viver feliz
Pequei
e não pedi
perdão a Deus
quando eu
O acusei da existência
de tamanha maldade
Pequei
Ah, como eu pequei!
Quando não acreditei
no exibicionismo
diabólico
e acusei somente
a Ele - Deus
por não ser amado
por não ser respeitado
pelo amor que tive
Ah, como eu pequei
quando acreditei
na possibilidade
de nós dois.

MONOTONIA


Aqui em casa é tudo tão igual
a mesma paisagem a admirar
um verde escuro a me cegar
mata preservada na sala
lindas montanhas no quarto
gaviões, coitados,solitários a planar
passarinhos, espertos, a fugir
é tudo tão igual...
o Sol, bem cedinho vem me dá bom dia
a Lua, tão meiga, me vigia a noite inteira
e quando a natureza zanga-se comigo
esconde de minha visão tudo isto
mas, como sou bonzinho, ela, a natureza.
vem vigiar-me num véu prateado
e quando percebe que estou triste
ela chora...
eu sei
vejo marcas na janela.
são lágrimas a escorrer
aqui em casa é tudo tão igual... eu sei.

Pó-de-arroz

Andando distraidamente pelas calçadas em Rios das Ostras, não tinha percebido ainda uma loja funerária por ali. Sorri quando vi o escudo de meu time estampado na tampa de um dos caixões. Pensei: ou o proprietário da loja odeia o Fluminense ou o ama demais. Mas ao olhar para o fundo da loja tive a certeza de que ele o amava. Tinha também estampado em outro caixão a bandeira do Brasil.

Tristeza

Quando cheguei à garagem encontrei Olga caída. Estava morta. Estranhei o silêncio das cadelas durante toda a noite e parte do dia. Mas não imaginava que o silêncio já era pelo luto da que tinha morrido. O luto demorou por mais cinco dias. Todas em silêncio. Nem um latido. Sá -  mãe de Olga - olhava-me triste e perguntava-me através de grunhidos: Por quê? Por quê?
Eu respondia: Não sei! Não sei!
Depois delas, nunca mais quero chorar por cachorra nenhuma.

A dois



Faço-me silêncio
na claridade noturna
não grito
não insisto
Permito-me sonhar
depuro-me em luz lunar
visto-me de estrelas
e clareio o meu viver
não sou Merlin nem Myrddin
me cubro de reais ilusões
O que fazer, se sou sonhador!?
Ah, nem tão louco
nem tão lúcido!
sou apenas navegante
- um bardo inspirado em teus olhos negros
Mas hoje, me faço silêncio:
não falo não insisto
Apenas a observo a sonhar comigo.

Presente de Claudia Lemos

Fraternidade tem nome: Paulo Francisco

Sol e lua
no céu da nossa                                           
afinidade
parceria
na vida
irmão
verdadeira amizade

choro e riso
festa e dor
tudo que é preciso
fraternidade
em que tempo for





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Tantos começos
e tantas tentativas
Descobertas incompletas
represadas
Metades cortadas
e almas consumidas
Velas desperdiçadas
e chamas perdidas
Caminhos criados
e pegadas apagadas
Amores abortados
e tristezas paridas
Tantos começos
e tantos finais
[marginalia vivida
vida bandida]
INFERNO ASTRAL
Recomeço na mesma filosofia