Solidão


Minhas mãos estão vazias
em meus dedos  não cabem anéis.
Minhas mãos estão vazias
nem a cigana morena da esquina
conseguiria ler as apagadas linhas.
Minhas mãos estão vazias
de cumprimentos;
de acenos...
Minhas mãos estão vazias
- Cheias, somente de adeuses.

Paulo Francisco

Doçura





Em tardes frias e morenas
debaixo das cobertas
volto a ser criança pequena
na esperança de acordar
 e encontrar à mesa
bolinhos – de- chuva.
Açúcar, canela e afeto.
 [Alquimia materna
guardada em segredo.]

Paulo Francisco

Querer



Em tardes serenadas
permaneço quieto
encolhido debaixo das cobertas
sonhando com estrelas
sonhando com fogueira
esperando que me acordes
com beijo na boca.


Paulo Francisco

Eclipse


Em tardes quietas
de 
sol preguiçoso
Permaneço como ele
escondido
numa moleza
sem fim.


Paulo Francisco


Ciclo







A água do córrego
escurece as folhas
seja outono - inverno
primavera ou verão
faz parte do ciclo da vida
a água se alimentar
de todas as estações.
A água do córrego
alimenta outras vidas
Ribeiro corre ligeiro
e adoça mansamente
a água de outros rios.

Paulo Francisco

Paraiso




Era um amor real
daqueles de morrer
a cada segundo vivido
Era um amor possível
daqueles de viver
a cada segundo sonhado.
Era um amor nosso
guardado em suspiros
exibido em olhares atrevidos
Era um amor daqueles
proibidos aos mortais
somente vivido por quem
jamais pecou.

Paulo Francisco

Gota d´água



jorra do peito
-com efeito-
defeito
que rejeito.

aceito
-não tem jeito-
outro beijo
com
confeito.

pletora
agora
e
a
qualquer hora
a
peçonha
da 
senhora cobra.

no
centro
da
 folha
a
bolha
estoura.

esparramam-se
então
as
palavras


Paulo Francisco

Meninice




A vovó viu a uva.
A vovó viu a uva e a escondeu debaixo da blusa.
Ao sorrir-me um sorriso amarelo e vazio
entendi o porquê da uva escolhida
pois não havia dentes
pra devorar as outras frutas.
Eu vi a vovó roubar a uva.
Eu vi sim!

Paulo Francisco

Escuro

Estava tudo apagado
o quarto
a casa
a rua
o bairro
o céu
e os olhos teus.

Paulo Francisco


Novidade






Percebo aquelas folhas soltas
marrons e quebradiças
que cobrem o chão
do pátio vazio
Vejo , também, a sua dona
imponente e calma
de braços abertos
olhando para o céu azul
à  espera da primavera.

Paulo Francisco