DE MANSINHO


















De todos os adeuses que já ouvi

o que mais marcou foi aquele silêncio

que foi chegando, chegando, chegando...

pra nunca mais.

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.

SEM LENÇO























Seguro na cauda do vento
navego clandestinamente
no tempo – vento
vento – calmaria
vento – tempestade
experimento novo tempo
tempo – tempo
no olho do ciclone
num giro anti-horário
retorno ao tempo
tempo-vontade

SILENCIOSO






























Durmo com a tarde
em névoa branca
agasalho-me de sonhos
aqueço-me de quarto escuro
sem estrelas
sem lua
sem céu
somente o silêncio
do vento a cantar
brandamente
Durmo com a tarde
em plena harmonia...

TUDO AZUL




!

Tudo conectado. Fios invisíveis e indivisíveis nos amarram na marra. Restando-nos somente amor e paz. Tudo desdobrado, marcado. Como ferida de gado no pasto. São marcas profundas que desnudam ao mundo o que satisfaz. Tudo em cores divinas na alma da menina. Tudo em primavera no caminho a seguir. Tudo azul. Tudo lindo. Instrumentos em concertos e girassóis.

QUIMERAS


















Tenho que parar com alguns vícios
[não tenho controle sobre eles]
sou dependente da ilusão
viajo em estrelas fugazes
transmuto-me a cada instante
e, mesmo não sendo louco,
converso com a lua,
aposto corrida com o vento
e tento, inutilmente, brilhar
mais que o sol.
Tenho que parar com alguns vícios
tenho que deixar de ser total dependente
de sonhos coloridos e aromáticos.
Sou dependente do silêncio
e neste vácuo interno
crio o meu próprio inverno
desvio de meu próprio caminho
e, sem destino, sonho acordado.

REMINISCÊNCIAS


















Trago comigo vários amores
escondidos
deliberados
perdidos
Trago em meu peito
os defeitos
os contrafeitos
de amores sabidos
Carrego todos eles
em lembranças
e em vontades
Que outrora, eram sabores e cores
eram, simplesmente, amores.
Mas depois que debandaram
tornaram-se, nada menos
e nada mais que antigos amores
e saudades.

INVÓLUCRO



















Não se assuste com a casca
depois dela tem o sumo
e tem gosto bom
satisfaz
mata a sede
e a carne nem macia nem dura
mata a fome
você vai ver



AMY

Mesmo sabendo do inevitável
nos horrorizamos com a sua chegada
tragédia preestabelecida
- morte- anunciada
nem toda voz é de anjo
nem todo anjo tem asas

RIACHO DOCE






















Na água clara do rio
vejo tua face sorrindo
que se vai
gota salgada/ rio doce
não se misturam
gota de lembrança
rio de esperança...
na água clara do rio
vejo tua face
sumindo/indo
gota que se vai
junta ao rio/ esperança
só lembrança
até desaparecer

SUSPENSO



















Coração melancólico
desacelerado
apertado
[mesquinha oscilação]
Tudo retido
tudo pedra
amputado
esvaído
sobreposto
Tudo partido
[tacanha emoção]
Coração cego
surdo
mudo
manco
[aleijado coração]
E num último suspiro
avarento/egoísta
Ele se vai...
Pra nunca mais...







QUASE...

















Acordei encharcado de saudade

quase não levantei

Arrastei-me em lembranças

quase não acordei

Fiquei sem ar

quase sufoquei

Fiquei em pane

quase detonei

Acordei encharcado de saudade

quase não chorei...

INDIRETO





















É mais que preciso

viajar em terras alheias

A minha vontade é

navegar em ventos

e em estrelas

É mais que preciso a agulha

no norte,

mesmo que no sul

esteja a minha vontade.

NAMORADOS


















Hoje eu não quero a lua
quero o contorno das montanhas
adormecidas sobre as nuvens
Não quero revoadas de pássaros
quero ser o próprio passarinho em voos rasantes
coçar a barriga em gramas verdes
Hoje eu não quero a rua - quero a rede em minha varanda
e num vai e vem só meu permito-me sonhar e namorar
as estrelas... somente as estrelas...
Paulo Francisco



PASSAGEM




















Quando fico triste
Perco-me
fico sem rumo
sem prumo
Numa balsa
de melancolia
navego até os confins
chegando lá - berro!
até não poder mais
Já quase sem forças
remo com os meu braços
e quando chego em terra firme
não olho pra trás.

RENOVO II














Hoje, especialmente hoje,
meu peito bate saudades
meus olhos lavam minha face
e o silêncio...
que sempre foi meu companheiro
cobre-me de lembranças
Hoje, especialmente hoje,
minha carne - meu sangue
meu sangue- minha alma
minha alma – meu padecer
Hoje, especialmente hoje,
Morrerei um pouco
pra renascer, quem sabe,
dentro de mim um novo ser
Hoje, especialmente hoje,
morro de saudades
de uma vida não vivida
de uma partida sem ida
de um nome sem rosto
e de uma voz sem corpo
Hoje, especialmente hoje,
morro mais um pouco
pra renascer amanhã
com muito mais fé.

Viajando a Portugal



Hoje, eu estou aqui:


no blog de minha amiga Isa.

NAUTA

















Navega em águas turvas
salinas
atraca em portos diversos
em marinas elegantes
em píeres envelhecidos
Navega em águas cristalinas
dulcícolas
lênticas
lóticas
[não importa]
para em praias de cascalhos finos
areias escuras ou branquinhas
e em cada uma cria um ninho
faz de seu corpo o porto
abriga no convés a diversidade
da vida parida a cada partida.
E nas docas: lembranças

RECICLAGEM























Neste ponto do meu existir
carrego todos os prós
Os contras, coloquei num baú
enterrei bem longe
mas não conto não
está enterrado
muito bem enterrado
pelo tempo, mumificou
- virou pó
ou simplesmente virou adubo
pois, até os contras
têm que servir pra alguma coisa.