IDÍLIO

















Aqui tenho paz
e muito mais
tenho mata,
cascata,
cachoeira
aqui tenho paz
e muito mais
tenho a lua inteira
estrelas só minhas
passarinhada a cantar
de manhãzinha
gambá a perturbar
ouriço a se esconder
e muito mais
aqui.. tenho, naturalmente, paz

VERDUGOS





(Para um amigo que anda distante)

Monstros dançantes
vegetais falantes
homens e mulheres
alados no céu
nuvens elípticas
[me engolindo
vivo]
Eu, fugindo
do fogo amarelo
que corre
atrás de mim
flutuo
mergulho
engulo vento
invento pessoas
tudo aqui
é tão normal
angustia
agonia
delírio
vertigem
uma viagem
por dia
é sempre igual
e na mesma estação
volto
cansado
perdido
sem minha vida
anormal
quero a luz do túnel
o rosto amigo
o sorriso bendito
de um amor
que não tenho mais
os anjos se foram
já não ouço seus
bandolins
quero a embarcação
e o vento
navegar em rios limpos
ficar limpo
para passear
em seu jardim.

NATURAL
















Sempre ele – o Sol
Dourado e nobre
Aquece minha casa
Aquece minha pele
Alegra minha vida
Sempre ela – a Lua
Prateada e bela
Ilumina meu caminho
Ilumina meu corpo
Me namora toda noite
Sempre elas - as Estrelas
Brilhantes e alegres
Aguçam meus sonhos
Rendam meu mundo
Não se cansam
De vigiar-me
Sempre ele - o Vento
Invisível e forte
Massageia meu ego
Me leva em suas asas
Me leva pra outros mundos
Me faz sonhar
Sempre ele – o Mar
Azul e forte
Renova a minha alma
Expulsa minha dor
Lava os meus pés
Lambe a minha nuca
Sempre ela – a Chuva
Transparente e misteriosa
Invasora de minha janela
Refresca meu corpo
Sempre ela – a Natureza
Colorida e fascinante
Que me trouxe ao mundo
Em noite de lua
Num céu azul enegrecido
Rendado por estrelas
Azuis e amarelas
Sempre eles em meu mundo
De fantasia e poesia

CADÊ TEREZA?
























Cadê Tereza?
 Tereza trocou
de barraco
desceu o morro
te abandonou

Estuda à noite
faz supletivo
arrumou um trabalho
é Fundamental

Tereza – reza
reza com pressa
está atrasada
não tem essa
é domestica
é normal


Cadê Terê?

Tereza
que não é Batista
que não está cansada
enfrenta a batalha
é diarista
todos os dias

Terê não volta
malandro!
trabalha de dia
numa boutique
quem diria!
ela é a tal

Cadê ela?

Ela sobe o morro aos sábados
gosta de samba - é bamba
estuda historia da arte
não encana – está bacana
frequenta vernissage
no meio de semana

Cadê?
Cadê Tereza?

Tereza! Malandro...
foi à luta
não tá na sua
te abandonou.

Mulher de verdade
enfrenta a diversidade
aprendeu a gritar
contra a desigualdade


Cadê?

Ela tá aqui, tá ali
tá em todas as partes
ela cresceu, malandro
canta, dança, faz arte

Tereza é Doutora/Escritora
Professora de pós graduação

Cadê Tereza?

Tereza se foi
ela quer mais
te deu um tchau
te abandonou

PRESENTES

Já ganhei muitos presentes
Sempre fico sem graça
Nunca sei o que dizer
Sou assim um tanto tímido
Até pareço atrevido
Mas sou um enganador
Aqui neste pequeno espaço
Mostro um tanto atrasado
O quanto eu fiquei contente
Com os belos presentes
Dados por essa gente
Que visita este amador
Agradeço a Valéria Soares
Que me chama de Pchico
Que me deu um poema
Lá em seu lindo Candelabros
Iluminando o ego deste autor
Não foi um único texto
Estou num dilema
Em meu aniversário
Ganhei outro poema
E fui incluído no belo
E sincero no Gente é pra brilhar
O vento também me trouxe
Pela Poetisa Claudia Lemos
Em seu Controvento-desinventora
Dois textos seus
É pra ficar prosa
Ganho do Antônio Rosa
De seu Cova do Urso
Um inesperado selo
E não parou por aqui
A menina Michele
Reconhecendo o poeta
(acho que sou eu)
Deixa-o um tanto prosa
Oferecendo para poucos
Um singelo selo seu
E já colecionador
A menina que encanta
A mim e as abelhas
Foi a primeira a agraciar
Este amador
E como posso deixar de mencionar
O Saulo Taveira com sua voz amiga
Salva o poeta
Recupera sua memória
Em uma grande Partitura.


http://encantadoradeabelhas.blogspot.com/





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http://cova-do-urso.blogspot.com/



De mal
http://valsoaressilva.blogspot.com/2010/08/de-mal.html

Recado-ao-amigo...
http://valsoaressilva.blogspot.com/2010/11/recado-ao-amigo-paulo-francisco-no-seu.html

Gente é pra brilhar

http://valsoaressilva.blogspot.com/2010/10/gente-e-pra-brilhar.html

http://www.valsoaressilva.blogspot.com/

Pra guardar na memória

http://minhavozmeucaminho.blogspot.com/2010/09/para-guardar-na-memoria.html

http://minhavozmeucaminho.blogspot.com/

Vento de renascer

http://controvento-desinventora.blogspot.com/2010/11/vento-de-renascer.html

Que vento é esse...

http://controvento-desinventora.blogspot.com/2010/10/que-vento-e-esse-sobre-o-papel-que-as.html


http://controvento-desinventora.blogspot.com/

MARIAS














Ainda não receberam o que merecem
são lutas diárias
marcas injustas
cicatrizes profundas
nem o som; nem a cor; nem o suor
nem mesmo a manha, a fé e a graça
afastam dessas mulheres
os horrores de seus algozes
é preciso mais que força
mais que raça
para que elas
concretizem seus sonhos
sem a mistura da dor com a alegria
da fé com a magia
elas não querem na pele
estranhas marcas
elas querem
respeito
igualdade
e é tão pouco,
meu amigo!

PARALISIA






















Imóvel
não lhe era permitido
nenhum movimento
lágrimas represadas
soluços retidos
guardados
escondidos
não lhe era permitido
nenhum sentimento
sofrimento velado
alegria contida
era pedra
estátua
gelo
tornou-se sombra
de si mesmo.

DESCOLADA




















Cabelo feito
Vestido curto- Florido
Está pronta - Está demais
Tá no salto - Tá na pista
Dança. Balança - Tá na crista
Ela...
Ela está bela
Está fera
Está menina
Sedutora
Bailarina
Folha ao vento
Brilho de lua
Se finge de boba
Mas é esperta
Ninguém a engana
Ela é demais
Mora sozinha
Trabalha pacas
Tem raça
Faz pós
Corre na rua
Vai à luta
Pega um cinema
Não esquenta
Escuta o Skank
Ler poemas
Vai à praia
Está sempre morena
Esta é a sua cor
Não tem namorado
Nem namorada
Anda de bicicleta
Não fuma mais
Demora no banho
Sobe a Serra
É esperta
E quer sempre mais

MENINO






















Gosto de falar de amor
de fazer poesias
de dizer segredos
Gosto de gostar de você
me sinto bem
me sinto leve
mais moleque
Gosto de me sentir assim
pisando em astros
flutuando em sonhos
navegando
em tempestades solares
Gosto de falar de amor
de fazer poemas
de dizer verdades
esquecer as maldades
ficar distraído
mais garrido
sonhador...
Gosto de falar de amor!

NATURALMENTE
















Gravetos se quebram
Rochas se desgastam
O vento definha
A água seca
O fogo apaga
E eu
Tudo isso

FOGO













Quisera voltar àquelas sensações
de dragões em meu corpo franzino
toda vez que estava perto de um amor.
Quisera um dia, ser provocado, de novo,
por sensações parecidas
Não preciso mais dos dragões enfurecidos,
odonatas ziguezagueando me bastariam.

V

Às vezes me pergunto: Qual o melhor remédio para acabar com a dor? E aí eu respondo: cultivar vagarosamente uma outra dor.

IV



Tem coisa pior que o monossilabismo de algumas pessoas?

III



O pior de tudo é quando tenho que baixar a cabeça e olhar para os meus próprios pés.

II





Não peço nenhum absurdo. Só peço que me ame.

I




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             












Se elas existem, por que retê-las? Choro, choro mesmo.

CASAS DE BONECAS

Na casa de Claudia
Somente Eloá
Na casa de Valéria
Somente Manuela
Na casa de Luana
Carol(ina)
Na casa de Roberta
Sophia
Lá embaixo
No pé da Serra
Na casa de Simone
Tem a Manoela
No mesmo lugar
Na casa de Jane
Tem a Olga
Na casa de Clarice
Alicinha
Na casa de Marina
Somente Júlia
Na casa de Guilmara
Tem a Bruna
Na casa dessas mulheres
Bailarinas
Meninas
Na casa de todas elas
Mulheres-meninas
Meninas-mulheres
Nas casas das meninas
Têm futuro
Nas casas das mulheres
Têm sonhos
E em todas elas
Casa de bonecas

IDIOSSINCRASIAS























Gosto de me esparramar
de ficar todo à vontade
não ouvir nada
não perceber nada
a não ser o meu livro
adoro me espalhar
nesta vida de agito
tirar uma soneca
num horário proibido
gosto de ser assim
um tanto esquisito
diferente de tudo
dormir tarde
acordar tarde
viver comigo
adoro esta vagabundice
este jeito avagarado
que só me é permitido
em feriados prolongados.
que venham todos
eu não ligo.

LABIRINTO














Estou tão afastado
não percebo o mundo
estou mudo
desligado de tudo
ando meio apagado
desnorteado
sem rumo
estou aéreo
confesso
perdido de tudo
me dê sua mão
quero voltar
me tire deste mundo
quero a luz
quero a paz
estou tão distraído
destacado
separado
te peço:
me sequestre
me leve
me resgate
para o teu mundo

PAUSE





















Eu estou aqui
deitado
esperando melhorar
não estou doente
mas estou sarando
de uma vida alheada
de uma vida esquálida
não estou enfermo
mas estou tentando
fortificar-me
exorcizando o medo
escamando o tédio
estou aqui
sozinho
perene
meditando
para a vida enfrentar
amanhã
uma nova era
uma nova década
renascimento
quando eu acordar

DOIS-PONTOS













Se estou triste
me recolho
se estou feliz
me expando
sou assim
igual a todos
com altos
e baixos
reclamo do calor
reclamo do frio
acredito no beneficio
da chuva
mas não gosto
de me molhar
[mas as vezes
danço com ela]
me protejo do sol
mas reverencio
sua chegada
sou lua
sou de lua
já não aponto
para as estrelas
mas não deixo
de contá-las
não tenho medo
do escuro
mas adoro
uma luz acesa
odeio política
mas vou as
urnas a cada
dois anos
eu sou assim
comum/igual
amo/desamo
ato/desato
se estou contente
quero ver gente
se estou soturno
não vejo o mundo
apago a luz
espero tudo passar
porque tudo passa
até mesmo a minha dor

TRAVESSIA


















Atravesso em versos
os meus desejos
caminho em busca
do amor eterno
mesmo que para
encontrá-lo
eu ame e desame
muitos outros
amores
venha comigo
te guio
segure minha mão
te levo
sou seu amigo
te digo:
as tardes são claras
são brancas
têm brisa
têm cheiro
atravessemos juntos
caminhos em versos
versejemos a paixão
o desejo
o encontro
venha, vamos versar
a vida.
Querida!

Inconveniente









A primavera está zangada -  o inverno não quer ir embora
Implicante, ele cobre de fumaça os seus jardins
A primavera está tão zangada que não vê a hora do verão chegar
Ela tenta - aparece irradiante
Nos oferece um calorzinho todas as manhãs
Chega tão feliz colorindo tudo
[Afaga as flores]
O verde brilha, fresquinho
Mas aí o implicante vem e esfria tudo

Tinge tudo de cinza

A primavera está tão zangada que não quer mais ficar
Vai embora antes do tempo
Vai deixar o rabugento inverno se entender com o verão
Só espero que o outono não venha querendo apaziguar e deixar mais confusa esta estação

Coitada da primavera.

CERTEZA





















Sei tão pouco da vida
Precisaria nascer mil vezes
Para dizer com certeza
Que sei algo sobre este mundo
Tudo anda tão incerto
Difuso
Confuso
Um tanto quanto perdido
Tenho a impressão de que não aprendi nada
Serei um eterno aprendiz
Para cada amor um amor diferente
Para cada paixão uma nova loucura
Nada é igual!
Sei tão pouco sobre as mulheres
Precisaria nascer dez mil vezes
Para dizer sem certeza
Que sei algo sobre elas
São tão incertas
Confusas
Doidas
Eternas
Mães
Filhas
Amantes
Sãs
Um tanto quanto descompassadas
[Segundo Maria Rita]
Tenho a impressão de que nada sei
Impressão não!
Não sei mesmo!!!

PARCERIA


Para Ascenção

O sol,
todas as manhãs, me cega
mesmo sem enxergá-lo, o admiro.
A lua,
quase todas as noites, me fascina
mesmo, sem tê-la, me apaixono
As estrelas,
em algumas madrugadas, me hipnotizam
mesmo, não lhes obedecendo, me guio
Maria,
todos os dias, me liga
mesmo, sem vê-la, sinto-a
O sol, a lua, as estrelas e Maria
fazem parte do mesmo cosmo
integram a minha vida
O sol e Maria me iluminam
A lua e Maria me guiam
As estrelas e Maria salpicam
minha vida de luzes azuis.
Existo, porque tenho:
o Universo
o Cosmo
e Maria, uma amiga, que me faz feliz.

FAZ ASSIM...







Escreva um poema pra mim
registre em palavras
os sentimentos afins
diga o quanto foi bom
inebriantes encontros
pecado nada original
tudo no mesmo tom
Escreva um poema pra mim
registre os nossos segredos
palavras soltas
bobas
[não faz mal]
confesse
apele
exagere
[eu não ligo]
fico embebecido
um tanto embasbacado
embelecado por ti
Escreva um poema pra mim
diga que é eterno
exagere na dose
mostre em palavras
o que foi dito
pedido
Escreva um poema pra mim
pode ser no espelho
num guardanapo
ou no travesseiro
[não importa]
Faça um poema pra mim
nele tem que ter você
eu
¨nós dois
num só¨
molhados
colados
grudados
perdidos em nós
faça
revele em versos
o inconfessável
o pecado de nós dois
Faça um poema pra mim
declame
sussurre
grite
diga em voz rouca
um tanto doida
o poema que fará para mim...

CONCERTO

















Você me faz bem
acordo mais disposto
vejo tudo posto
em plena harmonia
a felicidade me aquece
fico mais moleque
querendo a lua de dia
você me faz bem
já não tenho pressa
não faço mais promessa
sou um ex-suicida
você me faz bem
tudo tem mais cor
já não tenho dor
saiu de mim a letargia
deixei de ser nostálgico
não sou mais roto
tudo é a alegria
você me faz bem
aquece minha pele
esquenta meus desejos
e logo agora
olho pra você
fico acordado
não quero ir embora
deixo o sono pra mais tarde
quero a realidade
de estar agora
a sorrir.

ZEN




Eu estou tão calmo
não me irrito
não admito confusão
deixei de ter conflitos
paz no coração
tudo tá tão bonito
se faz sol: que bom!
se faz frio: que bom!
se anoitece: que bom!
quando amanhece:
tudo de novo!
eu estou tão tranquilo
tudo tá tão bem
que nem acredito
até parece feriado
estou sem pressa
a certeza me compensa
acho que já sei
encontrei a razão
para este estado de
leveza
para este momento de
nobreza
não estou mais preso
estou livre - solto
navego em brumas
pego carona nas asas
do vento
aluvião de desejos
sem anseios
acho que já sei a resposta
pra estar assim
inebriado
despretensioso
devaneado
É... acho que já sei...
mas não conto não

POR VOCÊ!




















Permaneço mandrião
querendo aconchegos
sonhando acordado
com a sua chegada
que sempre vem
de mansinho
cheio de beijinhos
cobrindo o meu corpo
esparramado e vencido
[à tua espera
sou menino]
fico dengoso - coisa rara
neste momento, cai bem:
um pouco de cheiro
no corpo inteiro
palavras sussurradas
vermelhas unhas
cravadas em meu peito
venha... cole em mim
arrepie minha pele
com rumorejos
e todos os desejos
[quero sim]
e como é de se esperar
bem mais tarde
depois do aprazimento
o menino se tranforma
em guerreiro
querendo brincar.

SAUDADE















Saudade...
Bateu saudade
Saudade é sentimento
Involuntário
Pega a gente de surpresa
E por mais que não queira
Ela vem arrasando
Queimando
Destruindo por dentro
Anulando as outras emoções
Bateu saudade...
Uma saudade danada
De um tempo que não volta mais
Ah! Quisera ainda ser criança
Onde tudo é esperança
Desejos e lembranças
Do dia que passou
Estou sequestrado
Preso
Retido
Numa emoção corroída
Destruída
Perdida em mim.
Bateu saudade
Não posso fazer nada
Por mais que eu finja
Tento expulsá-la
Ela não vai embora...
Faz parte de mim.

CANTO PARA JOÃO






Estou com saudade
Saudade de ti
Saudade de teu jeito
Um tanto maroto
Displicente
E preguiçoso
Estou com saudade
De nossos passeios
Cinemas
Teatros
Shows
Estou com saudade
Dos nossos almoços
Cada dia em um
Lugar diferente
Estou com saudade
De acordar cedo
Para não perdermos
Nenhum segundo
De um dia de sol
Estou com saudade
De te ouvir
De ser empurrado
Por causa de um sono
Ruidoso
Que lhe incomodava
Mas mesmo assim
Nunca quis mudar
De lugar
Estou com saudade
De ir às compras
De vê-lo nadando
Na piscina
Jogando futebol
Estou com saudade
Dos nossos passeios
De ouvir de você
Que somos amigos
Estou com saudade
De chamá-lo
De John
Levar o seu café na cama
E responder a todas
As perguntas
Algumas absurdas
Estou com saudade
De ouvir a palavra:
Pai.

NATUREZA HUMANA
















Devolvam-me os joelhos
quero caminhar
com firmeza
às pressas
devolvam-me minhas articulações
quero me dobrar diante de ti
natureza
devolvam-me a dignidade
sou bípede - não por acaso
devolvam-me os desejos
os sonhos
não sou réptil
nem quadrúpede
sou equilibrista de mim
marchador
velocista
até pude voar
mas o que quero mesmo
é caminhar
subir e descer
poder permanecer
apoiado em mim
devolvam-me os joelhos
sem eles sou
estátua viva
porta sem dobradiça
devolvam-me
o poder de ir e vir

BICHOS XVIII


















Que esquisito!

Do cruzamento absurdo
De felino com ungulado
Surgiu o engraçado:
Camelo-leopardo

Coitados!

Cometeram um engano
Os antigos romanos
Nem camelo, nem leopardo
Aquele bicho africano

Tem longas pernas
Tem um grande coice
Quase mortal, nunca erra
E ai! Se assim não fosse

Grande velocista
Dana a disparar
Quando avista
Predador se aproximar

Esbelta
Tímida
Calada
É ela – a girafa

Que sorte!

Testemunha
De várias batalhas
Na África do sul
Na África do norte
A malhada sobreviveu
A todas as maldades


Paulo Francisco

ENXAQUECA














Alguém me traga uma aspirina
Uma não, duas!
Ela insiste
Persiste
Intrusa em minha vida
Inquilina indesejada
Pesada e cretina
Dominadora de mim
Maldita cefaléia!
Chega sem avisar
E só vai embora
Embriagada
Dopada
Dormente
Depois de machucar
A minha mente
Deixo de ser gente
Só sei urrar
De olhos fechados
Num ambiente escuro
Fico parado
Prostrado
Vendo a vida passar
Alguém me traga uma aspirina
É urgente!

SOBREVOO













Estou andando por ai
perdido em mim
procurando por ti
vivendo sonhando
na possibilidade
quem sabe
de encontrá-la
distraída
sequestrá-la pra sempre
dentro de meu coração
estou andando por ai
levado pelo acaso
empurrado
por correntes termais
indo e vindo
como pássaro migrador
à procura de um ninho ...
vazio de amor

PARTITURA (PROFISSÃO DE FÉ)

Para Saulo Taveira

















Tenho a voz
Não me calo
Digo o que sinto
Digo o que quero
Passo - repasso
Pensamentos
Desejos
Falo o que acredito
Contribuo com o meu grito
Com minha voz - caminho
Faço dela minha estrada
Encanto/desencanto
Permaneço

[Não esqueço
de dizer nada]
Tenho a minha voz
E com ela
Grito à paz
Grito ao amor
Grito à esperança
E nesta partitura virtual
Mostro virtualidade alheia
Porque creio, ainda, nos homens
Deste mundo tão desumano
E enquanto existir a arte
Em poesia ou prosa
[Não importa]
Em tela ou em canção
Encanto-me
E com minha voz
Declamo
Exclamo
Quero paz!