BRINQUEDO DE MENINO
























Brinquedo quebrado
jogado num canto
parece um cavalo
não! É um elefante!
Brinquedo engraçado...
parece um mutante
ops! Não está quebrado
é um brinquedo inventado
pelo moleque
que danado!
corpo de rinoceronte
cabeça de cavalo
pata dianteira
de sapo!
a traseira?
nem falo
parece de marreco
eu acho!
rabo de cachorro
de fato
é um mutante
inventado
pelo moleque
que danado!
e na caixa
os restos
de plásticos
de muitos deles
coitados!

INFÂNCIA III















Roupa nova
banho tomado
unhas limpas
cabelos cortados
camisa branca
limpinha!
calça curta
azulzinha!
tanta gente
em seu caminho
Sai daí pessoal!
é o primeiro dia
de uma vida nova
ele vai para escola
vai ser muito legal

INFÂNCIA II

Tira o sapato, menino!
Não ande descalço!
Lave as mãos antes do almoço
Não se atrase para o jantar
Sai de cima desse muro!
Cuidado ao atravessar
Coma tudo direitinho
Não repita a sobremesa
Abra a porta do banheiro
Feche a porta da geladeira
Não grite dentro de casa
Fale baixo na igreja!
São algumas frases lembradas
De uma infância passageira.

INFÂNCIA












São de barro minhas lembranças
bolinhas, bonecos e monstros gigantes
São de vento minhas lembranças
pipa, balão e braços abertos
São de terra minhas lembranças
gude, pião e pés no chão
São de água minhas lembranças
pular na chuva, brincar no tanque.
São de artes minhas lembranças
criança levada e mais nada.


VONTADE

















Ah! Se eu pudesse te dizer
todos os dias: Bom dia!
e com um beijo tranqüilo:
Boa tarde!

Ah! Pudera dizer-te
todas as noites: Boa noite!
e com um beijo ardente:
Até amanha....

MANHÃ DE INVERNO
























Neblina dissipada pelo sol...
Gotículas orvalhadas
           escorrem num caminho tortuoso
                        na transparência do vidro
                              da janela do meu quarto
Sigo seu caminho num espreguiçar
lento...
          preguiçoso...
                    sem querer levantar

¨Céu azul
  lá fora¨

Sol, invasor de meu espaço,
aqui dentro sou Rei
Tenho a cortina pra te ocultar
então: vai embora
           não amola
Quero ficar aqui debaixo das cobertas
só mais um pouquinho
não quero levantar...
não quero não...

Paulo Francisco

UMA NOVA CHEGADA




A cada dia, a cada hora, a cada instante.
ele vem de mansinho, sorrateiro...
a espreita pra não assustar
Ele sabe que se bater não entra
então vem de pé ante pé
silenciosamente – como tem que ser
Vou ficar aqui fingindo que não o vejo
pagando pra vê o que irá acontecer...
Livrai-me Deus!
das correntes existentes
dos amores adormecidos
dos amores esquecidos
dos amores enganados
dos amores prepotentes
E... Quando ele chegar
quero as correntes partidas
quero essa conquista
para a nova vida
que está pra chegar.

FLORES



¨Flores¨
amarelas, vermelhas, lilases
Todas elas na poesia
Flor- menina / cheiro-de-amor
cheiro–de-mato/amor-floral.
¨Flores¨
diante delas me calo.

Paulo Francisco


MARUJO
















¨Ondas
Famintas¨
- marinhas
carregam tudo

Puxam
gente
Cospe
areia

¨Ondas
Meninas¨
- mansas
Querendo
acariciar

¨Mar
Azul¨
- marinho
faminto
Querendo
Amar

¨Verde
Mar¨
quero
teu
amor
eterno
antes
de
ir

E
eu
mais
terra
que
mar
Amo
em
vê-lo

Vela
do
barco
balança
a minha
vontade

Balança
até
tarde

Até
a
lua cheia
chegar

Navego
Naveguei
Neste
Mar

PALAVRAS FICAM













Dizem que palavras vão ao vento
as suas estacionaram em meu peito
foram remédios
aliviaram a dor existente

dizem que palavras se vão...
as suas permaneceram em meu coração
tornaram-se doses diárias para o meu viver

Palavras vão, palavras vêm.
as suas estavam cravadas em minha alma
a cura do meu sofrer
pois me amou.

Dizem que palavras vão ao vento
ah!... Fosse verdade...
não sofreria

Palavras vão ao vento,,,
as suas?
tornaram-se pesadas demais para serem carregadas
caíram em meu peito
caíram em meu coração
e de tão pesadas
machucaram
machucam
machucarão

Quem dera, o vento, levasse para longe de mim.
as duras palavras que ouvi
quem dera
quem dera

Vento, leva de mansinho
para o peito de um menino
o que mais sinto
o que mais quero
a cura
o amor

Palavras vão
Palavras vêm
Palavras ficam.

OBTUSO



Nasce uma flor vermelha
e ao lado dela
morre a lagarta
que tanto fez e que tanto faz.

Nasce uma borboleta
e ao lado está à flor,
aberta,
linda a espera da vizinha.

Nasce um dia brilhante
que mais tarde dará
lugar a escuridão
acompanhada de uma luz furtiva
ou, simplesmente, salpicada
de continhas azuis.

Nasce nesse momento
um novo amor
e ao lado dele
o óbvio

MARCO













Saímos daquela casa para contemplar
no terraço, um lindo arco, formado no céu.
Onde a mistura do ar frio,a fina chuva,
quase sereno, e a luminosidade do sol,
no fim de tarde, nos presenteou com lindas cores...
Ficamos ali parados, nos remetemos as nossas infâncias,
imaginado o pote de ouro na ponta do arco.
Todos, ali, adultos, com cara de meninos e meninas,
reconhecendo todas as cores do arco-íris,
onde o pano de fundo era a mata atlântica.
Bela despedida do verão..

CABEÇA D´ÁGUA










Chega arrastando tudo
espumando pelas beiras
sai da frente!
ela quer passar!
não toma conhecimento
leva o que é belo
mata o que é feto
(em segundos)
tudo fica estéril,
tudo fica cinza.
passa roncando
passa feroz
passa imponente...
passa de repente
arrasta,
atropela
(quem quer ficar)
e como veio
vai embora
sem anunciar

RENOVAR












Deixei no rio
lembranças
vontades...

Se foram
em águas
barrentas,
vermelhas,
desejos
esperanças...

No rio deixei
sonhos
amores
paixões...

Deixei
em águas
turvas
fatos
maus-tratos
desilusões...

Em outro
braço
busco
nas águas
cristalinas...
desejos
esperanças
vontades
e ponto final.

GATA












Estava distraído
olhando o nada
quando ela
mexeu comigo
era uma gata
maravilhosa
simplesmente
felina

Era uma gata
charmosa
totalmente
felina

Era uma gata
negra
simplesmente
divina

Estava distraído
olhando a negra
quando ela - Gata
mexeu comigo.

DESEJO LUNAR

















Hoje eu tenho a lua
quase inteira
olhando pra mim
ela está tão bonita
protegida por uma luz
densa, num branco suave...
um anel lunar,
contrastando com a cor
do céu – negro-azulado
eu acho!
hoje eu tenho a lua
um céu com estrelas
uma brisa que bate
em meu corpo
sem machucar
avisando-me
da chegada
do inverno
que está próxima
hoje eu tenho a lua
tenho vontade
um desejo
lunar.

MISTURA














Sou feito de água
nascente
misturada ao barro
vermelho
modelado à mão,
seco ao sol
esquecido no sereno
embalado em noites de luar.
conto a minha história,
descrevo minhas lembranças...
sem culpas, nem desculpas.
simplesmente,
conto como conto.
conto como poesia
e nesta aventura
certamente
vadia,
aumentarei um ponto
e a margem fica vazia...

GUARDADOS














Abro gavetas
vasculho o passado
encontro papeis, caprichosamente,
amarrados por uma fita
que já fora um dia
o mais bonito dos azuis:
o azul-rei
admiro fotografias
antigas, desbotadas,
quase invisíveis...
Encontro coisas guardadas,
coisas de uma vida esquecida...
Descubro no fundo da gaveta
um pedaço de mim...

VELHA PALMEIRA




 














As franjas verdes
da velha palmeira
anunciam, num movimento
silencioso...
à chegada de uma brisa
suave...
passageira...

INVERNO II













Frio...
que não é branco
que não é neve
simplesmente gelo
que frio!

INVERNO I













Mãos pálidas
cinzas
de frio
veste as luvas
para aquecê-las
luvas que também
são cinzas.

LAREIRA

O gostoso













Do inverno
é sentir o calor
da lareira
ouvir o estalar
da madeira
e vê o fogo
vermelho
dançando,
serpenteando,
querendo
fugir no ar.

FINAL DE OUTONO













Tudo calmo
tudo outonal
folhas secas
marrons,
quebradiças,
no chão.
E ainda
vai chegar
o Inverno
que saudade
da prima
Vera!

OUTONO














Manhã azul
céu transparente
inocente dia
e eu...
escondo-me
na sombra
do meio dia.

IDEIA CONSTRUÍDA














Nasce um poema
revela-se o poeta
sentido construído
indo
vindo
na tela
cresce a ideia
aumenta a janela
nasce um poema
na tela
vindo
indo
o poeta

Sem texto

















Folha amassada
palavras emboladas
no cesto
folha em branco
palavras travadas
no começo
papel em branco
à espera do texto.